Jogos Olímpicos 2012

Guor Marial: um atleta sem pátria a correr sob a bandeira olímpica

O Comité Olímpico Internacional não reconhece o Sudão do Sul como país olímpico e por isso Guor Marial tem de correr a maratona como independente. Se Guor Martial conseguir um lugar no pódio, só poderá ouvir o hino olímpico.

Guor Marial correu pela sua vida quando ainda vivia no Sudão do Sul para escapar a um campo de trabalho infantil. Em criança foi ainda raptado pelos soldados sudaneses mas agora vai correr, sem medos e ao longo de 42 quilómetros, na maratona dos Jogos Olímpicos de Londres 2012.

O Sudão do Sul é um recente país africano que ainda não tem comité olímpico nacional e por isso a sua participação nos Jogos de Londres foi primeiro recusada pelo Comité Olímpico Internacional (COI).

Depois de ver a situação desbloqueada e de ser autorizado a competir, Marial afirmou numa entrevista à CNN, que «o facto de ir aos Jogos Olímpicos significa muito para mim mas também para o meu país, que passou muito. Mesmo sem levar a bandeira do meu país, vou ser a bandeira do meu país. O Sudão do Sul vai estar no meu coração».

O atleta conseguiu os mínimos para as olimpíadas de Londres após ter corrido durante 2h14m32s na maratona Twin Cities, nos Estados Unidos da América.

Como não podia representar o seu país, havia a alternativa de participar pelo Sudão mas essa foi logo recusada pelo maratonista. Marial disse ainda à CNN que, «só de pensar nisso já é uma traição. Morreram 28 pessoas da minha família na guerra com o Sudão e milhões de pessoas do meu povo foram mortas por forças do Sudão. Eu até posso perdoar, mas nunca poderia honrar e glorificar um país que matou a minha própria gente».

Guor Marial vive há 11 anos nos Estados Unidos, com estatuto de refugiado, pelo que não pode representar a bandeira norte americana. O COI acabou por autorizar a participação de Guor Marial como independente, justificando que ele «é residente permanente mas não um cidadão americano».

A decisão do Comité Olímpico Internacional baseou.-se ainda numa carta enviada por uma senadora norte americana de New Hampshire. Jeanne Shaheen apelou ao COI para que autorizasse a competição de Guor Marial, sob a bandeira olímpica.

Guor Marial não vai poder erguer a bandeira do Sudão do Sul nem tão pouco equipar-se a rigor para a maratona com as cores do seu país. O atleta olímpico vai ter de competir sob a bandeira olímpica e, caso vença uma medalha, será tocado o hino olímpico.

O Sudão do Sul é a mais jovem nação do mundo, independente desde julho do ano passado, e tem cerca de 10 milhões de habitantes. Entre eles estão ainda os pais de Guor Marial que já não vêm o filho desde 1993. «Espero que eles me vejam a correr nos Jogos Olímpicos», disse o maratonista. «Eles vivem numa aldeia sem eletricidade mas planeiam ir à vila mais próxima, a 64 quilómetros, para me verem na televisão».

Esta não é uma situação inédita já que Guor Marial se vai juntar a outros três atletas das Antilhas holandesas, que se recusaram a competir pela Holanda, depois da dissolução do seu país, em outubro de 2010.

Em Sidney 2000, também houve quatro atletas timorenses a competir sem pátria, o mesmo tendo acontecido em 1992 com 58 atletas da Jugoslávia e da Macedónia.