O presidente da Associação Nacional de Municípios, Fernando Ruas (PSD), admitiu hoje que a instituição saiu fragilizada do último congresso, depois de divisões e insultos entre autarcas.
O congresso extraordinário da ANMP, que decorreu no sábado, em Santarém, ficou marcado por um ambiente de tensão entre autarcas de diferentes partidos e manifestações de repúdio pela forma como o presidente da mesa, Mário de Almeida (PS), geriu os trabalhos.
«É como quando um carro tem um choque: pode ser reparado, mas fica lá sempre com a mazela. E esta mazela do congresso há-de ter alguma repercussão», considerou Fernando Ruas, em declarações à agência Lusa.
No entanto, na sua opinião, a ANMP não corre o risco de desaparecer, apesar de, como todas as instituições, ter momentos altos e baixos: «Com toda a certeza que se há-de recompor. É uma joia do poder local e seria uma perda irreparável se eventualmente alguém, por obediência a outras coisas, contribuísse para que a associação acabasse».
O também presidente da Câmara de Viseu contou que, nos dez anos que leva de liderança da ANMP, nunca tinha acontecido algo semelhante, mesmo «em congressos muito mais complicados» do que o último.
«Isto não quer dizer que não tivéssemos problemas internamente. Tínhamos e debatíamos e às vezes até com alguma exaltação. Mas sempre consensualizámos as posições de modo a aparecer com uma voz única cá fora», afirmou.
O congresso de sábado «não acabou nada bem e não foi nada benéfico para a imagem do poder local», lamentou, considerando que as conclusões que o conselho diretivo da ANMP aprovou por unanimidade e levou ao congresso deviam ter sido «mais respeitadas».
O autarca social-democrata disse ter ficado muito desagradado com moções apresentadas, nomeadamente sobre o Programa de Apoio à Economia Local (PAEL) e a Lei dos Compromissos.
«Quem negociou o PAEL foi um elemento de cada um dos partidos com representação na direção da ANMP», referiu, contando que, após as negociações com o Governo houve uma reunião final, na qual esteve «toda a gente de acordo» e só depois foi assinado o documento.
O conselho diretivo da ANMP tinha também conclusões «muito claras» relativamente à sua posição contra a Lei dos Compromissos, que pensava que seriam aprovadas.
«Era isso que estava previsto. Só que a determinada altura soube-se que o PS elaborou uma moção que ia além do que estava nas nossas conclusões, o que nem achámos muito correto, porque quem estava a elaborar a moção teve assento na elaboração das conclusões no conselho diretivo», recordou.
O PSD também elaborou uma moção, que acabou por retirar «em nome da concordância», mas o PS não fez o mesmo, tendo a sua moção sido aprovada.
«Foi aprovada uma moção que foi além das conclusões que tinham sido aprovadas por todos nós, por unanimidade, no conselho diretivo. Isto foi o problema», frisou.
Os acontecimentos do congresso de sábado são analisados na quinta-feira, em reunião do conselho diretivo.
Uma das questões que Fernando Ruas quer esclarecer é se as conclusões que são debatidas e acertadas no conselho diretivo «ainda podem ser acrescentadas ou diminuídas, que foi aquilo que se passou» no congresso de sábado.
«Temos que resolver esse problema. E acho que o vamos resolver internamente, com as fricções habituais, mas com toda a certeza sairemos de lá como sempre saímos, sem extremar posições, como aquelas que apareceram no congresso», acrescentou.