Mais de metade do efetivo da GNR desempenha funções não operacionais, como pedreiros, mecânicos ou administrativos, garantiu hoje um dirigente associativo da Guarda, contestando os números apurados pela Inspeção Geral de Finanças (IGF).
«Os números [de operacionais] são muito mais baixos», afirmou à agência Lusa o presidente da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda, José Alho, ao comentar os dados da IGF divulgados este sábado jornal Correio da Manhã, e segundo os quais há 17.574 elementos da GNR em funções policiais e 5858 a desempenhar atividades não operacionais.
Na sua opinião, a diferença entre o relatório e a realidade deve-se ao facto de o documento contabilizar como operacionais os guardas que recebem suplemento de escala ou subsídio de patrulha, extras remuneratórios que diz serem generalizados na GNR.
Esse tipo de suplementos ao vencimento foram criados quando o socialista Jorge Coelho era ministro da Administração Interna (1995-2001), com o objetivo de incentivar o serviço de patrulhamento na Guarda, acrescentou José Alho, e «foram-se generalizando com o tempo, entre outras razões devido aos baixos salários».
Para receber o suplemento de escala, exemplificou, basta um guarda, que faz trabalho administrativo ou outra função não operacional, entrar numa escala por mês.
Há cerca de dez anos, recorda o dirigente, em resposta a um pedido de informação apresentado pelo grupo parlamentar do PCP, o Ministério da Administração Interna anunciou que a GNR tinha 11 mil efetivos em funções policiais de um total de cerca de 25 mil elementos.
«Atualmente não deve ser muito diferente», disse.
A GNR é «auto-suficiente», já que tem nos seus quadros, além de militares em funções administrativas, outros que são «eletricistas, pedreiros, carpinteiros, barbeiros, mecânicos, pessoas nas messes» e é essa situação que deve ser alterada, na opinião de José Alho, para aumentar o número de guardas em funções policiais.
A Guarda «não pode ser auto-suficiente e ser uma força de segurança ao mesmo tempo», defende o dirigente associativo, realçando que a consequência dessa situação é a escassez de efetivos para o trabalho operacional.
Em consequência, «percorre-se o país de norte a sul e é raro encontrar patrulhas em atividade operacional», afirmou.
A solução, na sua opinião, passa por criar um quadro de pessoal civil na Guarda apara as funções que não sejam de âmbito policial.
«Não temos falta de polícias em Portugal, tanto na GNR como na PSP. Andam é poucos em atividade operacional», considera.