Cavaco está preocupado com um cenário de rutura, Borges deve sair e o Governo tem de ser remodelado. O diálogo com a CGTP é impossível. João Proença só não disse para quando uma greve geral.
Em entrevista à TSF e Dinheiro Vivo João Proença defende uma ação mais visível por parte do Presidente da República.
O secretário-geral da UGT considera que Cavaco Silva tem feito uma política de bastidores importante mas os momentos vividos pelo país impõem uma ação «mais visível na opinião pública» apesar de ter tido um «papel importante», por exemplo, no caso da TSU.
Ainda assim, diz João Proença, «esperava muito mais no discurso do 5 de Outubro e esperava uma intervenção mais visível em termos de opinião pública. O Chefe de Estado «está a fazer uma política de bastidores e isso não é suficiente».
Até porque, diz o secretário-geral da UGT que em 2013, e ao fim de 18 anos no cargo, vai abandonar a liderança da intersindical, o Presidente da República está «muito preocupado com um cenário de rutura política», facto que até foi visível numa reunião da intersindical com o Chefe de Estado no dia seguinte à declaração de Paulo Portas em plena crise TSU: «sentimos essa preocupação».
Diálogo com a CGTP é impossível
A cerca de um mês da greve da CGTP, João Proença assegura que não houve qualquer tentativa de aproximação por parte da intersindical de Arménio Carlos no sentido de organizar uma paralisação conjunta.
O secretário-geral da UGT diz mesmo que com esta CGTP «o diálogo é impossível» mas assegura que, quando a UGT avançar para uma greve, vai falar com Arménio Carlos: «A greve para ser geral tem de ser para todos. A greve da CGTP não faz sentido. Uma greve da UGT também não faria sentido».
Ainda assim Proença sublinha que a paralisação convocada para dia 14 de Novembro pela CGTP «corre o risco de não ter objetivos» e que qualquer greve deve ter metas concretas: «Declarar uma greve é fácil. Fazer uma greve já é difícil. Sair de uma greve também não é fácil porque tem de se dizer aos trabalhadores o que é que se obteve com a greve.». E o que é que a greve da CGTP vai mudar no país? «Fora a Troika? No dia 14 a Troika não vai embora. Abaixo o Governo? Isso compete aos mecanismos democráticos». A paralisação de Novembro é apenas uma «manifestação de descontentamento. Se há outros objetivos então devem ser explicados».
António Borges é um «iluminado»
Sobre o terramoto da TSU e as respetivas réplicas políticas e mediáticas, João Proença lembra que já antes da polémica António Borges era um nome mau para liderar o processo de privatizações.
E depois dessa polémica deixou de ter condições para continuar no cargo: «É um iluminado que acha que está acima do país e que todos são burros, em primeiro lugar os empresários e depois toda a gente que se opôs à medida». Por isso, António Borges «devia sair da liderança do processo de privatizações» e que o consultor do Governo tem um passado (Ex-Goldman Sachs e ex-FMI) que «introduz algumas suspeitas sobre o processo das privatizações».
Governo «enfraquecido» e «obcecado com a austeridade» tem de ser remodelado
O secretário-geral da CGTP acredita que o Governo está «desgastado e enfraquecido» e tem de ser «reestruturado, não apenas nas pessoas mas na estrutura».
João Proença lamenta que «não haja um ministro que se preocupe com o crescimento económico». O líder da União Geral dos Trabalhadores considera que é ao Ministro das Finanças a quem compete essa tarefa mas sublinha que «toda a gente vê que o Ministro das Finanças não é minimamente sensível ao crescimento económico. Como não é sensível ao problema das pessoas e ao problema do emprego».
Entendimentos à esquerda do PS são difíceis
Nestas declarações no programa Tudo é Economia da TSF e Dinheiro Vivo - que foi gravada antes de ser conhecida a versão preliminar do Orçamento do Estado - João Proença garante também que não vai rasgar o acordo tripartido mas sublinha que o país não pode submeter-se a todos os desejos da Troika.
João Proença diz ainda que os partidos à esquerda do PS tomam o Partido Socialista como «inimigo» e que isso torna «difíceis» os entendimentos à esquerda.