Economia

Jardim Gonçalves: PSD deve convidar PS para o Governo

Jardim Gonçalves TSF

O PSD deve entender-se com o PS para formar um novo governo. Bloco Central seria melhor do que a atual coligação. Opinião do fundador do BCP que recebe uma pensão de mais de 170 mil euros/mês.

O fundador do maior banco privado português entende que uma coligação PSD com o PS é «mais benéfica» do que com o CDS. Jardim Gonçalves ressalva que "«o líder de uma coligação será sempre o PSD, com Passos Coelho como primeiro-ministro» mas acrescenta que «é importante que o partido socialista esteja no poder», porque o PS «tem uma base e uma capacidade de diálogo com as centrais sindicais e as forças económicas que o CDS não tem».

O antigo presidente do BCP considera por isso que «entre ter uma coligação com o PS ou com o CDS ou "em três" a mais "benéfica e relevante" seria com o PS». O Partido Socialista, defende o ex-presidente do banco, «foi sempre importante em momentos de crise».

Jardim Gonçalves não é no entanto claro sobre a forma como isso deve acontecer. Por um lado, diz que não está a falar de um governo de iniciativa presidencial; por outro, afasta o cenário de eleições antecipadas.

Orçamento «pode ser diferente»

Jardim Gonçalves considera que o Orçamento do Estado pode ainda ser alterado no Parlamento e que Portugal pode iniciar outro caminho. O fundador do BCP pergunta e dá a resposta: «um outro caminho implica outra governação do país? Provavelmente. Provavelmente os elementos que estão a governar o país não são os melhores para retificar o caminho».

Reforma de 170 mil euros «custa zero ao BCP»

A polémica reforma de Jardim Gonçalves, que liderou o BCP durante duas décadas, «custa zero» ao banco. «Todos os trabalhadores do BCP não pesavam sobre os que ficavam a trabalhar. Quando saiam já tinham trabalhado o suficiente para a remuneração que tinham recebido enquanto trabalhavam e para a pensão que iriam receber depois e eu estou nessas condições». O fundador da instituição desmente ainda a anterior administração, que o acusou de ser o único antigo gestor que rejeitou negociar o valor: «É falso, é uma mentira dizer que eu fui o único que não aceitou qualquer revisão. O Banco nunca me propôs qualquer alteração ao valor da pensão».

OE2013 é «ditado pelos credores»

Jardim Gonçalves sustenta que «quando se está na posição de devedor devemos reunir condições para ter a maior autoridade ao falar com o credor. Portugal não fez isso. Portugal foi falar com os credores sem ter um trabalho bem feito no próprio país».

E esse trabalho, argumenta o ex-banqueiro, deve ser o culminar de uma concertação entre «quem governa, o tecido empresarial, a concertação social, os sindicatos, e as entidades patronais». Só depois disso o país deveria ter falado com os credores.

Esse caminho começou mal e precisa de «ser retificado». O Orçamento foi «ditado por regras exteriores ao país, tem condições externas ao país» e por isso «dificilmente pode ser visto como um instrumento da República para gerir o próximo ano». Jardim Gonçalves entende mesmo que o OE2013 é o reflexo da vontade dos credores.

Governos não deviam ter independentes

O fundador do MillenniumBCP é contra a inclusão de independentes no Governo. E entende que se isso acontece, então esses independentes devem dizer com que quadrante político se identificam: «Qual é o pensamento social e ideológico do ministro das Finanças? Ou do ministro da Educação? Ou do ministro da Economia? Eu não sei». Jardim Gonçalves antevê tempos difíceis em Itália: «Mário Monti é apontado como um sucesso. Mas vamos ver até quando é que os partidos vão tolerar a liderança de alguém que não é de nenhuma família partidária?».

Banco de Portugal fraco, BCP devia ter evitado ajuda do Estado

Jardim Gonçalves considera que as exigências de desalavancagem [rácio de crédito sobre depósitos] impostas à banca portuguesa são «insólitas». E isto acontece, diz o antigo banqueiro, porque o Banco de Portugal «não teve força» para rejeitar imposições externas à banca.

Jardim Gonçalves vê com maus olhos o pedido de ajuda ao Estado do banco que fundou e liderou durante duas décadas: «Não devia ter sido assim. A desalavancagem não devia ter sido exigida. As exigências em relação aos rácios de capital não deviam ser assim. Porque é o Core Tier 1 é 10 e não é 6 ou 8 ou 10?»

Quanto à presença da Sonangol no BCP na estrutura acionista, que aumentou a posição para 11 %, Jardim Gonçalves diz que quando liderou o banco teve muitas conversas com os angolanos e obteve a garantia de que a empresa cumpriria «as regras de uma «casa cotada. Para isso é preciso ter 11%? Penso que não».

Processo: termos da acusação são «mais fortes» do que a matéria em julgamento

Em 2010 o Ministério Público acusou Jardim Gonçalves de manipulação de mercado e falsificação de documentos. O julgamento começou em Setembro de 2012. Jardim Gonçalves não quer falar sobre o detalhe dessas acusações mas sublinha que os termos usados são «mais fortes do que aquilo que está a ser julgado» porque o que está em causa são «regras contabilísticas. Espero que tudo isso se esclareça e não haja condenação».

Perfil

Licenciou-se em engenharia civil mas foi na Banca que fez a carreira que começou ainda antes do 25 de Abril.

Em 1985 fundou aquele que viria a ser o maior banco português, o BCP, que liderou durante duas décadas.

Deixou a instituição na sequência da guerra de poder no banco em 2007 e acusou a governo de José Sócrates de assalto ao BCP.

Em 2010 viu o seu nome envolvido em polémica: foi acusado pelo Ministério Público de manipulação de mercado e falsificação de contas. Esse julgamento ainda decorre.

Jorge Manuel Jardim Gonçalves nasceu há 77 anos no Funchal, é casado, tem 5 filhos e 21 netos.

Veja aqui a entrevista na íntegra.