Ex-presidente da CP sublinha que nenhum privado comprará a dívida de 3500 milhões. José Benoliel garante que acidente de Alfarelos não pode ser ligado aos cortes na empresa.
A CP é uma das empresas mais endividadas do país: nesta altura o passivo da empresa situa-se nos 3500 milhões de euros. Destes, 1500 milhões são de curto prazo.
O Governo vai neste ano privatizar a CP Carga e concessionar os serviços urbanos de Lisboa e do Porto, mas isso, garante o ex-presidente José Benoliel - que abandonou o cargo a 31 de Dezembro de 2012 - não livra os contribuintes de pagarem a dívida da empresa: «nenhum investidor privado assumirá uma responsabilidade dessas». Quanto à privatização da operação, a história é outra: «Consegue privatizar-se a operação, isso com certeza, se a operação estiver livrada da canga da dívida».
Benoliel recorda no entanto que uma privatização não muda o problema da dívida, que já existe. Os contribuintes já hoje pagam essa dívida através do Orçamento do Estado: «da privatização ou concessão não deriva maior encargo para o Estado, antes pelo contrário: o Estado já tem hoje esse problema. Dessa alteração não resulta um agravamento da dívida, essa já lá está».
José Benoliel acredita também que a privatização ou concessão não vai implicar um agravamento das tarifas porque «poderá haver uma participação do estado em termos de indemnizações compensatórias. Um privado pode tentar negociar indemnizações compensatórias caso o Estado imponha que não haja aumentos de preços».
A empresa quer ser cada vez mais eficiente e competitiva, mas anúncios como o desta semana da Ryanair, a companhia aérea low-cost que promete ligar Lisboa ao Porto por 10 euros, são «uma ameaça muito complexa que tem de ser muito bem estudada. É um killer price, e quando há um killer price não se sabe quem será morto»
Acidente de Alfarelos «não pode ser ligado» aos cortes na CP
Nos últimos anos o efectivo da CP reduziu-se de 4200 para 2900 pessoas e em 2013 vai ser ainda mais pequeno, com a saída de 4 centenas de trabalhadores. Mas mas o homem que liderou a empresa nos últimos 5 anos garante que essa os cortes na empresa, incluindo essa redução dos quadros, não pode ser ligada ao acidente desta semana em Alfarelos «de forma alguma. As comissões de inquérito é que vão determinar o que aconteceu mas a informação que é pública mostra que não há ligação absolutamente nenhuma».
A segurança, de resto, «não está nem nunca esteve em causa» na CP. Benoliel garante que «era um ponto fundamental para mim que a segurança nunca estivesse em causa. Se alguém, por razões economicistas, financeiras ou outras, pusesse em causa a segurança eu não ficaria lá nem mais um minuto. E fiquei até ao último minuto do meu mandato. A segurança está garantida».
Impossível negociar na CP porque a empresa «não tem nada para oferecer»
A sangria de quadros na CP continua mas a empresa tem conseguido levar a cabo esse emagrecimento através de rescisões amigáveis. Quanto à negociação com os sindicatos para obter mais flexibilidade laboral, a tarefa é difícil. Uma negociação implica «dar algo para obter algo em troca», mas a rigidez das leis laborais determinam que a empresa «não tem nada para oferecer de contrapartida».
Sucessor Manuel Queiró vai ter «vida difícil»
José Benoliel abandonou a presidência da CP no final do mandato, que coincidiu com o final do ano, e já tem substituto: Manuel Queiró, ex-deputado do CDS, assume o comando da empresa. Queiró não tem experiência no sector ferroviário e Benoliel sublinha que «a tradição é que a gestão seja feita por pessoas ligadas ao sector. Talvez seja a primeira vez que vem alguém de fora. No caso da CP não basta saber de números». José Benoliel adivinha que Manuel Queiró «não vai ter uma vida fácil».