Artes

«Paira no ar a possibilidade de acabar» a Cornucópia, diz Luís Miguel Cintra

Luís Miguel Cintra Global Imagens

Os responsáveis do Teatro da Cornucópia, em Lisboa, estão preocupados com o futuro da companhia, que completa 40 anos em 2013, e admitem que «paira no ar a possibilidade de acabar».

«Estamos à espera do resultado dos concursos, não sei qual será o apoio, mas, mesmo que a Cornucópia tenha o subsídio máximo, o que duvido, só nos permite a manutenção da casa que não tem atores, e não permite gastos nenhuns com os elencos», disse à agência Lusa Luís Miguel Cintra.

«Os subsídios estão a limitar a liberdade. [O sistema] é mais limitativo da liberdade do que existir uma censura», defendeu Cintra.

Sobre os atuais constrangimentos financeiros, Cintra afirmou que, neste momento, só pode fazer peças «com pouca gente e que não impliquem gastos de produção».

«Eu não ganho cada vez que duplico funções (ator e encenador), ganho sempre o mesmo e ganho uma miséria», afirmou, acrescentando que é o único ator fixo da companhia. Os atores que são convidados a trabalhar na Cornucópia «ganham muito pouco, e são obrigados a fazer outras coisas».

O ator e encenador argumentou que a Cornucópia «tem provas dadas». «Noutro país, que não em Portugal, estaríamos na situação, teríamos um teatro à nossa disposição», acrescentou.

Em relação aos subsídios a atribuir pela Direção-Geral das Artes, Luís Miguel Cintra sublinhou: «Só nos permite ficar aqui à espera que os anos passem sem fazer nada».

O encenador não cruza braços e afirmou que «há que procurar apoios e estratégias», e aponta caminhos para fazer teatro: «O futuro passa pelas parcerias; há as coproduções que, claro está, têm as suas contingências».

No próximo ano há já a hipótese de «uma coprodução com o [Teatro Municipal] S. Luiz e outra com os dois Nacionais [D. Maria II e S. João]». O encenador deu ainda conta de «uma oferta da Câmara de Lisboa, sem se ter pedido nada, uma prenda, quando se faz 40 anos», mas nada foi ainda concretizado.

Em março, a Cornucópia vai ao Nacional São João, no Porto, «uma digressão que vai permitir cobrir os ordenados», disse o encenador. No palco portuense, a Cornucópia vai apresentar "Os desastres do amor", de 15 a 24 de março.

O Teatro da Cornucópia, fundado em 1973 por Luís Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, é atualmente dirigido por Cintra e Cristina Reis. Desde 1975, a companhia ocupa o Teatro do Bairro Alto, ao Príncipe Real, um antigo Centro de Amadores de Ballet, que foi cedido, na época, pela Secretaria de Estado da Cultura.