Um estudo da DECO conclui que os portugueses acham útil, mas procuram menos ajuda ou reduzem o tempo da terapia devido à crise, acabando por recorrer mais aos médicos de família.
Ao mesmo tempo que aumenta as situações de ansiedade ou problemas emocionais, a crise económica afeta o Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde o tempo de espera para a primeira consulta de psicologia é de um mês e os contactos passam a ser mensais em 70% dos casos, o que «é pouco», disse à agência Lusa o coordenador do trabalho, Osvaldo Santos.
O estudo, a ser divulgado na próxima edição da revista Proteste, também refere que, neste contexto, os médicos de família acabam por ser o recurso mais procurado e 19% dos inquiridos pediram ajuda ao seu clínico, percentagem mais elevada do que a registada no anterior inquérito (11%), em 2002.
Estes profissionais «têm um papel fundamental» na triagem destas situações e o aumento da procura dos médicos de família nestas situações «provavelmente» está relacionado com as dificuldades económicas, referiu Osvaldo Santos.
O problema é que «acabam por ficar por esta solução», o que acontece em 19% dos casos, e «vemos que a satisfação é menor entre as pessoas que recorrem só a médicos de família», quando comparados com aqueles que recorrem a profissionais especializados, «o que é natural», acrescentou.
«A grande maioria dos inquiridos mostra uma atitude muito favorável à procura de apoio psicológico e isto é bom. As pessoas têm a ideia de que há sofrimento psicológico e aspetos mais disfuncionais que requerem um tratamento mais específico», explicou o especialista.
Dos 1.350 inquiridos, 97% afirmaram que é útil e pode ser benéfico procurar ajuda de profissionais, principalmente em caso de ansiedade, depressão ou problemas com o sono, e quase um quinto (17%) procurou mesmo este apoio (em 2002 eram 29%).
Mas, daqueles que disseram sentir um sofrimento emocional e psicológico «bastante acentuado», 78% optaram por não procurar ajuda psicológica e, destes, 13% considerou que o custo das terapias «é um entrave».
Para mais de 60%, familiares, amigos e colegas de trabalho tiveram um papel de suporte importante. Há ainda 37% de inquiridos convictos de conseguir ultrapassar sozinhos os problemas.
A crise reflete-se no facto de metade dos portugueses a necessitar de ajuda recorrer a um tratamento mais barato e de «uma grande percentagem das pessoas só ir a uma consulta, não fazer um tratamento continuado», apontou Osvaldo Santos.
Para Osvaldo Santos, «é preciso (...) priorizar as questões de saúde mental, até porque quanto mais saúde mental, mais produtividade laboral existe e [registam-se] menos custos de saúde», defendeu.
O especialista recordou investigações que mostram que, por cada 0,1% de desemprego, aumenta 0,3% a taxa de suicídio. «Ao deixar a situação agravar-se, corre-se o risco de estarmos a aumentar indicadores de saúde que são graves e também têm custos económicos», concluiu.