Saúde

Internamentos por cancro de fígado triplicaram

Cancro do fígado Direitos Reservados

Dois mil novos casos surgem todos os anos devido à elevada prevalência de hepatite e consumo excessivo de álcool. Na última década triplicaram os internamentos.

No véspera de um Simpósio Internacional sobre Carcinoma Hepatocelular, o diretor do Serviço de Gastrenterologia do Hospital de São João, no Porto, em declarações à Lusa, apresenta os números: «Nos últimos 10 anos, o internamento aumentou três vezes e os custos associados nove vezes. É um enorme encargo para o erário público, um valor muito superior ao das doenças pulmonares e cardiovasculares».

Guilherme Macedo alerta que os números oficiais estão «subestimados», por se tratar de uma doença silenciosa, mas adianta que as estimativas apontam para a existência de 250 mil pessoas infetadas com hepatite B e C, das quais 10% a 20% poderão ter cirrose, e destas 5% correm risco de desenvolver cancro, o que dá cerca de dois mil novos casos por ano.

Tendo presente esta realidade, o especialista alerta para a necessidade de medidas de prevenção para inverter esta tendência crescente e reduzir não só o número de cancros de fígado, como de cirroses hepáticas, principal causa deste tipo de carcinomas, e assim conseguir poupanças em economia.

Contribui para o aumento do número de cancros os casos de hepatite não diagnosticada, que, segundo Guilherme Macedo, são muito elevados e facilmente seriam detetados com uma simples análise ao sangue.

«As infeções que se conhecem estão controladas, mas não estão as pessoas que estão infetadas e não o sabem. A infeção por hepatite é altamente prevalente na população», afirmou, acrescentando que o cancro no fígado está a «subir no ranking» em Portugal, sendo aproximadamente o 7º tipo de cancro mais comum.

Para Guilherme Macedo, o outro problema grave é o excessivo consumo de álcool em Portugal, onde ainda é a principal causa de cirrose hepática, e as «insuficientes restrições» no acesso a bebidas alcoólicas por parte dos jovens.

«Finalmente a tutela introduziu fatores restritivos, mas não o suficiente. Não parece razoável que jovens adolescentes tenham acesso livre ao álcool. A tutela tem que ser sensível pelo menos aos problemas económicos», criticou.

Na opinião do especialista deveria haver uma «limitação indiscutível» do acesso a bebidas com qualquer teor alcoólico por adolescentes com menos de 18 anos. «É criminoso que se continue a permitir e que não haja um mecanismo punitivo», considerou, afirmando ser uma «circunstância frequente» aparecerem adolescentes nos hospitais com hepatites alcoólicas graves.

Além de uma lei mais restritiva, o responsável considera fundamental a prevenção, quer em termos de mudança de padrão do consumo de álcool, quer em termos de verificação da existência ou não de uma infeção por hepatite, especialmente a C, já que a B está contemplada no programa de vacinação.

É este aspeto da prevenção que vai estar subjacente a todo o simpósio, cujo subtítulo é "atuar hoje para salvar a vida". O encontro insere-se numa semana dedicada em todo o mundo ao problema das doenças digestivas e em particular ao carcinoma.