Vida

A casa que abriu as portas em Abril celebra 90 anos

Casa do Alentejo, Lisboa Direitos Reservados

Na Casa do Alentejo não entrava "Zé Ninguém" nem homem sem gravata até à revolução de Abril. A casa que agora faz 90 anos era «elitista», dirigida por pessoas «extremamente abastadas», muitas vezes ligadas ao regime de Salazar.

Nos 90 anos de história da Casa do Alentejo - que começou por chamar-se Grémio Alentejano - cabe uma República recém-nascida, uma ditadura de quase meio século, uma revolução e a democracia.

Do emblemático edifício que a casa ocupa desde 1932, na rua das Portas de Santo Antão - o Palácio Alverca - desfia-se um rol de histórias: foi ali, diz-se, que se esconderam as armas que mataram o Rei. Foi ali que funcionou o "Magestic Club", um dos primeiros casinos de Lisboa. Foi dali, reza a lenda, que Lula da Silva levou "sorte" para ser eleito Presidente do Brasil, depois de uma eleição perdida.

Ali, a Casa do Alentejo pôs a funcionar, para a sua "elite" de sócios, "uma barbearia com serviço de manicura e engraxadoria", jogos "de azar" - clandestinos à época - e bailes. Para os migrantes alentejanos mais pobres na capital, criou um posto clínico e uma escola primária.

Com a revolução de 25 de abril de 1974, contou à Lusa o vice-presidente Manuel Verdugo, a Casa do Alentejo «tornou-se completamente aberta, escancarou-se ao mundo». Essa mudança, segundo ele, expressa aquilo que os alentejanos respondem quando alguém lhes bate à porta: nunca perguntam "quem é?", dizem sempre "entre".

Hoje, cabe na casa quem quiser entrar, com ou sem gravata, para almoços ou jantares, para a matiné de dança de domingo, para ouvir cante alentejano ou grupos corais, para uma visita, para uma fotografia, para um copo de vinho e um pão com azeitonas, para um café e uma cerveja, ou para leituras de jornais e na biblioteca. Não cabe «a caridadezinha do antigo regime».

A Casa do Alentejo tem entre 2.000 e 2.500 sócios. Embora olhe para o futuro da associação «de um modo muito positivo», o vice-presidente reconheceu que «o rejuvenescimento não está a acontecer». A faixa etária dos associados está entre os 50 e os 60 anos, e os sócios mais jovens são poucos.