Vida

Estátua polémica do cónego Melo em Braga

Cónego Melo Global Imagens/Pedro Ferrari

Uma estátua ao cónego Melo foi colocada no sábado numa rotunda da cidade de Braga, apesar da contestação do Bloco de Esquerda e do PCP locais.

Numa iniciativa de um grupo de cidadãos de Braga, para homenagear aquele que foi vigário geral da arquidiocese durante mais de três décadas, a estátua foi ontem implantada na rotunda de Monte de Arcos.

A cerimónia da inauguração, no entanto, que chegou a estar prevista para 15 de agosto, foi adiada para depois das eleições autárquicas.

Na Câmara, a colocação do monumento foi aprovada com os votos favoráveis do PS e com a abstenção dos vereadores eleitos pela coligação Juntos por Braga.

«Quer homenagear o cidadão cónego de Melo. Que fique bem claro. O cidadão, o bracarense, que era um bracarense dos sete costados. Era um grande bracarense e, como tal, é essa homenagem que nós lhe devemos. O resto tem que ser abstraído», justificou o presidente da Câmara, Mesquita Machado, sobre a estátua.

A proposta para que a estátua fosse erigida mereceu a abstenção da coligação Juntos por Braga (PSD, CDS-PP e PPM).

«A autarquia autoriza mas não tem nenhum envolvimento direto na iniciativa. Entendemos que é uma iniciativa que não iríamos desenvolver, mas também não íamos obstaculizar», explicou o líder da coligação, Ricardo Rio.

O Bloco de Esquerda de Braga considera que a estátua é uma «provocação», sublinhando que o homenageado, logo após a revolução do 25 de Abril de 1974, que levou à queda da ditadura, «participou na organização fascista autodenominada Exército de Libertação Nacional [ELP], promoveu a destruição de sedes do PCP e de organizações de esquerda e apoiou atentados bombistas, designadamente o que vitimou o padre Max».

«No período constitucional, o cónego Melo foi um ativo promotor de interesses imobiliários especulativos, por vezes contra a própria igreja bracarense, como aliás foi denunciado por setores desta, a propósito, designadamente, dos terrenos da Quinta do Colégio dos Órfãos», acrescenta um comunicado do Bloco de Esquerda.

A estátua é igualmente contestada pelo PCP, que defende que a iniciativa deve ser «fortemente repudiada» pelos «defensores» da liberdade.

«O cónego desenvolveu um dos mais destacados papéis como autor e mandante na conspiração ao serviço da extrema-direita, ao serviço da contra revolução, que, da forma mais hipócrita e mentirosa, justificou como sendo ao serviço da religião e da Igreja Católica», acusou António Lopes, histórico militante do PCP/Braga.

A homenagem ao cónego Melo foi proposta por um grupo de cidadãos que entende que «foi um homem que tantos serviços prestou» e que, por isso, esta estátua «é merecida». Segundo um dos responsáveis pela iniciativa, Pinto Cardoso, «era difícil os bracarenses aceitarem que a estátua não fosse colocada».

«Estamos numa altura em que a sociedade está muito pobre em valores. O cónego Melo foi uma pessoa extraordinária. É difícil acontecer aparecerem agora valores destes. São exemplos para as juventudes vindouras», justificou, assim, o motivo da homenagem.

Quanto às críticas, Pinto Cardoso defendeu que «os que agora cortam no cónego Melo, o fazem por desconhecimento ou maldade».