Vida

Peregrinos querem Igreja Católica mais reivindicativa, mas longe da política

Alguns dos crentes que estão em Fátima para a peregrinação de agosto desejam uma Igreja Católica mais reivindicativa na defesa dos mais pobres, mas longe da luta política.

Daniela Santos, que está a chegar de Pombal e não consegue disfarçar a emoção mal vislumbra o recinto do santuário da Cova de Iria, enxuga a lágrima que escorre pela face e diz, seca, que «não deveria haver uma ligação entre a política e a religião».

A peregrina de 24 anos que veio de Pombal para agradecer ajuda divina, cumprindo uma promessa da mãe que faleceu há pouco mais de dois meses, reforça a ideia de que a política e a religião não casam e dispensam interferências.

Já José Luís, de velas na mão para queimar no velódromo do santuário em honra de Nossa Senhora, quer não só deixar bem vincada a opinião de que «as promessas a pé não são aceitáveis» como a convicção de que já «há muita política na religião».

Contudo, José Luís apela a uma Igreja Católica mais interventiva na defesa dos mais carenciados junto daqueles que detêm o poder de decisão.

Desconfiado da boa-fé da esmagadora maioria dos padres, mas crente incondicional «da Santa», o peregrino de Santa Maria da Feira aconselha a Igreja Católica apostar «numa religião mais próxima dos outros».

Afinal, lembra, «cai muito dinheiro nestas coisas», argumenta, referindo-se ao Santuário de Fátima, ao qual chegam mais de cinco milhões de pessoas todos os anos.

«Tenho um implante que me custou 10 mil euros e sem o qual não consigo ouvir nada. Eu, a ganhar 250 euros por mês como é que consigo comprar isto? O Estado não nos ajuda, só nos tira. E os padres podiam pôr um pé nisso», afiança.

Para Teresa Coelho, de 43 anos, que veio do Porto, «se a Igreja também se metesse na política poderia haver mais ajuda, para os mais desfavorecidos e para os pobres».

A fé no papa Francisco e no novo patriarca de Lisboa, que é também presidente da Comissão Episcopal Portuguesa, Manuel Clemente, é suficiente para a peregrina de 43 anos afirmar que estes líderes religiosos vão ter a capacidade de unir mais as pessoas e em especial os católicos.

Junto às escadas que dão acesso ao recinto, a descansar os pés de uma viagem de mais de 200 quilómetros massacrada pelo calor, António Ribeiro, de 29 anos, já recuperou o fôlego para a dizer que «o melhor é a Igreja ficar de um lado e os partidos do outro».

Natural de Espinho, mas emigrado na Suíça, o católico sustenta, porém, que «a Igreja deve ajudar os que mais precisam» e limitar-se «a fazer eco dos problemas» com que os pobres são confrontados.

A peregrinação internacional de agosto, nos dias 12 e 13, integra a Peregrinação do Migrante e é presidida pelo arcebispo do Luxemburgo, Jean-Claude Hollerich, tendo como tema "Mostrai-nos o Vosso rosto".

Até ao dia 18 de agosto, a Obra Católica Portuguesa das Migrações organismo da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, leva a efeito a 41.ª Semana Nacional das Migrações, este ano com o lema "Migrações: Peregrinação de Fé e Esperança", cujo ponto alto é vivido hoje e terça-feira em Fátima.