A 25 de agosto de 1988, um incêndio deflagrou nos extintos Armazéns Grandella, no Chiado, destruiu edifícios históricos, provocou dezenas de feridos e dois mortos, ganhando lugar na memória coletiva como uma das piores catástrofes da cidade de Lisboa.
O incêndio do Chiado hora a hora:
03:00 - O Diário de Lisboa do dia 25 de agosto de 1988 escreve que o guarda do elevador de Santa Justa afirma que foi a esta hora que os bombeiros foram avisados do início do incêndio. Segundo o jornal, o funcionário afirmou que «o fogo começou no rés-do-chão, propagando-se muito rapidamente».
O jornal O Independente escreve, no entanto, na edição de dia 26 de agosto de 1988, que uma testemunha ocular, Fernando Corte Real, afirma ter visto, na rua do Crucifixo, uma carrinha a sair dos Armazéns Grandella. A PSP, citada pelo mesmo jornal, afirma que essas declarações «não têm qualquer fundamento».
As fontes são diversas e contraditórias sobre a hora que o incêndio deflagrou nos Armazéns Grandella. O mais exato é que se diga que terá acontecido entre as 01:00 e as 04:00.
05:00 - O Diário de Notícias (DN) de 26 de agosto de 1988 escreve que «eram cerca de cinco horas quando uma pequena coluna de fumo começa a esgueirar-se pela fenda do vidro de uma das montras do Grandella».
As corporações de bombeiros são alertadas pelas 05:20 e começam a ser mobilizadas. Os bombeiros sapadores no local comunicam a situação e pedem reforços. Monta-se no local um comando avançado.
O DN diz que, a esta hora, o edifício dos Armazéns Grandella «já estava transformado numa gigantesca tocha». Entretanto, o fogo propaga-se aos edifícios em redor, incluindo os Armazéns do Chiado. A EDP corta a eletricidade na rua Nova do Almada, Boa Vista e praça da Figueira.
O Diário de Lisboa conta que «as sirenes de carros ecoam por Lisboa e os populares amontoam-se nas ruas». Há «colunas de fumo espesso por cima dos prédios».
06:00 - As estações da EDP que serviam a praça do Comércio e o Chiado foram desligadas. O Diário de Lisboa diz que, nesta altura, «apenas as paredes exteriores do edifício dos Armazéns do Grandella estão de pé».
07:00 - São tornadas públicas as primeiras suspeitas de fogo posto. Os Armazéns do Grandella e os Armazéns do Chiado estão já completamente destruídos. O fogo avança. O Diário de Lisboa escreve que «a rua do Carmo era um mar de chamas» e que a «decoração camarária da rua» provocara «graves dificuldades de acesso» dos 120 homens que tentavam combater as chamas à rua.
O vento piora o cenário. A esta hora, a situação agrava-se na rua Nova do Almada. Há chamas em todo o quarteirão superior da rua. O fogo avança em direção à rua Ivens. Na esquina da rua do Crucifixo com a rua da Vitória as chamas propagam-se.
08:00 - Vinte e dois autotanques, com 22 mil litros de água e seis autoescadas encontram-se no local do incêndio, que agora chega também à rua Garrett. Corporações de bombeiros de Lisboa e arredores estão no terreno. Nos céus há helicópteros da Força Aérea que avaliam a extensão do incêndio e dão indicações aos bombeiros.
A esta hora, conta o Diário de Lisboa, «o fogo é limitado a norte junto ao elevador de Santa Justa, mas alastra-se aos Armazéns Jerónimo Martins. Da esquina da rua do Ouro com a rua da Vitória para cima tudo está a arder». Vista da ponte 25 de Abril, «Lisboa é uma enorme coluna de fumo». Os bombeiros, lê-se, «pedem leite às populações».
Os hospitais e meios de socorro entram em ação. Por esta altura, uma conduta de água rebenta e a pressão de água nas mangueiras diminui.
09:00 - O edifício da Valentim de Carvalho, na esquina da rua Garrett com a rua Nova do Almada, estava, por esta hora, desfeito. O DN escreveria, no dia seguinte, que «as chamas destruíram um património histórico de valor incalculável», como números de revista de Vasco Santana.
«Bilhas de gás rebentam. Nas ruas, pessoas em pijama têm nas mãos as poucas coisas que conseguiram salvar das suas casas em chamas», descreve o Diário de Lisboa. Continuam a chegar canhões de água ao local.
A esta hora há já registo de sete feridos. O incêndio não transpõe a rua do Ouro, mas avança na colina do Chiado.
O Presidente da República, Mário Soares, faz o primeiro comentário à situação: «É uma catástrofe. É um incêndio de proporções incalculáveis, de uma gravidade espantosa. É um desastre nacional», diz.
Há água a escorrer pelas ruas, fachadas de prédios ruem. Os bombeiros queixam-se de falta de meios. As comunicações, o gás e a eletricidade estão cortados em toda a baixa.
10:00 - Os bombeiros afirmam que fogo está quase controlado. O fogo já só está ativo na calçada do Sacramento e os bombeiros concentram-se aí para impedir que as chamas cheguem à escola Veiga Beirão. O quartel do Carmo e as ruínas estão fora de perigo. Realiza-se uma reunião de emergência no Serviço Nacional de Proteção Civil.
11:00 - «Os bombeiros pedem alimentos, para além de leite», escreve o Diário de Lisboa. A esta hora anuncia-se já que, salvo imprevistos, o incêndio está circunscrito, mas as viaturas dos bombeiros permanecem no terreno.
13:00 - Segundo O Independente, os bombeiros confirmam, a esta hora, que o incêndio está quase extinto.
16:00 - Último balanço das autoridades: um morto, 42 feridos. Posteriormente, o número de mortos foi elevado para dois (um bombeiro que tinha ficado ferido com gravidade e um morador), bem como o número de feridos, que, segundo os Sapadores Bombeiros, foi superior a 60.