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Índios da Amazónia começam a sofrer doenças de "brancos"

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Os índios da Amazónia brasileira já não sofrem de malária, uma doença relativamente controlada na maior selva tropical do mundo, mas de doenças comuns nas grandes cidades de "brancos", como a hipertensão arterial ou dislipidemia.

A conclusão é de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com índios Khisêdjê que vivem no Parque Indígena de Xingú, um conjunto de reservas ambientais e indígenas localizado na Amazónia, longe das grandes cidades.

Os índios, embora se mantenham em áreas isoladas e conservem parte das suas tradições, não estão imunes às chamadas «doenças da modernidade», disse à Efe a investigadora Suely Godoy Agostinho Gimeno, investigadora da Unifesp e coordenadora do estudo que elaborou o "Perfil Nutricional e Metabólico dos khisêdjês".

O estudo, baseado em avaliações médicas de 179 índios realizadas em 2011, constatou que a doença com maior incidência atualmente entre os khisêdjês é a hipertensão arterial, ao contrário do que acontecia em 1965, quando as principais causas de morte entre os membros desta etnia eram a malária, as doenças respiratórias e a diarreia.

De acordo com os autores da investigação, embora as doenças infecciosas e parasitárias sejam ainda uma importante causa de mortalidade entre estes índios, as que mais aumentaram nos últimos anos foram as crónicas, não transmissíveis, como a hipertensão, a intolerância à glucose e a dislipidemia, um aumento anormal na taxa de lípidos no sangue e que pode manifestar-se pela subida do colesterol total.

A prevalência destas doenças é inferior à média da população não indígena, mas significativa para um grupo no qual os índices de doenças da vida moderna eram insignificantes.

«A nossa teoria é que essas transformações ocorreram devido a uma maior aproximação dos centros urbanos e à intensificação do contacto dos índios com a sociedade não indígena», afirmou a investigadora, sugerindo que o problema pode ser também explicado através de uma maior acesso a bens de consumo como os alimentos industrializados.

O Parque de Xingú conta com 2,8 milhões de hectares de extensão que estão à disposição de 5.500 membros de 15 etnias que vivem em 61 aldeias.