O secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro garante que o Governo contraria muitas vezes a troika e que a desvalorização salarial é um tema de discórdia.
O secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro considera que a ideia de que o Governo está sempre de acordo com a troika é errada e que o Executivo tem batido o pé ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE).
O responsável pela supervisão da aplicação do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) garante que está «muitas vezes em desacordo com a troika, e faço-o saber, e luto por isso. Mas não ando a gritar publicamente sobre isso, ando a trabalhar com a troika para conseguir resolver esses diferendos».
Carlos Moedas dá um exemplo para ilustrar essa tensão, que será frequente, com a troika: a desvalorização salarial.
Na semana em que a Organização Internacional do Trabalho defendeu a subida do salário mínimo, o governante assegurou que «um dos pontos que nos divide - não com a troika, mas especificamente com as equipas do FMI - tem a ver com o facto de nós querermos uma política que aumente a competitividade do país pela qualidade e não pelo preço. A visão de algumas pessoas do FMI tem sido a de descer os salários. Essa divisão é clara e tem sido um diferendo em que dizemos "não" à troika».
Guião da Reforma do Estado escrito de forma a poder «ser lido por todos»
O Governo publicou há dias o guião para a Reforma do Estado. O documento foi alvo de críticas generalizadas. Entre elas, o facto de não enunciar fontes concretas, de ser um conjunto de ideias dispersas e genéricas sobre o papel do Estado na sociedade, e de não incluir uma quantificação das medidas propostas.
São críticas rejeitadas por Carlos Moedas, que participou na elaboração do documento. O Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-ministro considera que o Guião é «um documento muito importante, que define linhas» e que «é importante para todas as pessoas lerem, e por isso teve de ser um documento que tivesse capacidade para ser lido por todos e para ser discutido por todos».
O responsável pela supervisão da aplicação do PAEF considera que se trata de «um documento muito sério, com ideias concretas e sérias» e volta a sublinhar a mensagem do Governo de que este é um documento aberto, que é um ponto de partida para uma «discussão importante que não é só com o PS, é com quem se interesse pelo país».
Perfil
Com 43 anos, Carlos Moedas é um dos mais jovens membros do Governo.
Licenciou-se em Engenharia Civil, trabalhou nessa área no início da carreira profissional, mas depois de obter um MBA em administração de empresas pela Harvard Business School voltou-se para a gestão. Passou por várias empresas, incluindo o Goldman Sachs.
A partir de 2011 começou a destacar-se no PSD. Foi coordenador do Gabinete de Estudos Económicos, fez parte da equipa que negociou o Orçamento do Estado para 2011 com o governo de José Sócrates, e integrou a comitiva social-democrata que negociou o resgate com a troika.
Carlos Moedas tutela a equipa que acompanha a implementação das medidas do programa de assistência económica e financeira.