O Presidente da República lembrou hoje o «invulgar talento» do arquiteto Alcino Soutinho, que morreu no domingo aos 83 anos, sublinhando o contributo inestimável que deu para a difusão internacional da arquitetura portuguesa.
«Alcino Soutinho foi um nome maior da 'Escola do Porto', que marcou de forma decisiva a arquitetura portuguesa na segunda metade do século XX, projetando o seu exemplo neste novo milénio», lê-se na mensagem de condolências enviada pelo chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, à família do arquiteto.
Alcino Peixoto de Castro Soutinho nasceu em Vila Nova de Gaia a 6 de Novembro de 1930. Concluídos os estudos secundários, ingressou em 1948 no curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes do Porto, concluindo o curso em 1957. Nesse mesmo ano começou a trabalhar como arquitecto em regime liberal, mas prosseguiu os seus estudos para receber o diploma de arquiteto pela ESBAP em 1959, com a classificação final de 20 valores.
Dois anos depois de concluir a sua formação na ESBAP assinou, em conjunto com o escultor Lagoa Henriques e com o arquiteto Álvaro Siza Vieira, uma proposta para o Monumento aos Calafates, destinado à I Exposição Extra-escolar dos Alunos da Escola de Belas Artes do Porto. Apesar do consenso em torno da proposta, o projeto nunca chegou a ser concretizado.
Com 30 anos, obteve uma bolsa de investigação da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1961, que lhe permitiu partir para Itália para aprofundar os seus conhecimentos na área da museologia. Durante cerca de uma década, até 1971, trabalhou nos projetos dos bairros habitacionais da Fundação das Caixas de Previdência, o que o tornou autor de múltiplas habitações económicas no norte do país, mandadas construir por aquela instituição no âmbito de um programa desenvolvido no consulado marcelista.
Em 1972 regressou à ESBAP, desta vez como professor, funções que ali exerceu até 1979, ano em que transitou para o corpo docente da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Jubilou-se em 1999 como professor associado de nomeação definitiva.
Entre 1993 e 1997 foi consultor do CRUARB - Comissariado para a Renovação Urbana da Área Ribeira-Barredo, projeto de reabilitação lançado pelo então presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, e que abriu caminho à classificação pela UNESCO do Centro Histórico como Património Mundial da Humanidade. Foi também assessor, entre 1996 e 2002, da Administração do Porto de Lisboa para o reordenamento da Zona Ribeirinha entre Algés e a Matinha. Entre 1998 e 2001 foi presidente do Centro Português de Design, e presidiu à Assembleia Geral da Cooperativa Árvore no triénio 2003-2006, tendo exercido igual função nos corpos sociais da Ordem dos Arquitetos entre 1999 e 2003.
Uma obra multifacetada
A vastíssima obra de Alcino Soutinho fez dele um arquiteto multifacetado, que assinou projetos emblemáticos muito diferenciados, desde grandes equipamentos de distintas naturezas e utilizações, até à habitação ou ao espaço público. Entre o conjunto de edifícios que concebeu pode relevar-se, por exemplo o do Castelo do Prado, do Edifício Delfim Pereira da Costa, do Palácio da Enseada e da Quinta das Sedas, em Matosinhos.
Na lista de equipamentos sobressai o Auditório, a Biblioteca Florbela Espanca, a Câmara Municipal e a Torre Sinhá em Matosinhos. A Bolsa de Derivados do Porto, a Marginal de Vila do Conde, ou habitações unifamiliares, como a casa de José Grade, em Portimão, a de Pinto Sousa e de Pina Vaz, ambas em Ofir, a de Pedro Soares, em Afife, a de Joaquim Matias, no Barreiro, ou a de António Santos, no Porto, entre muitas outras.
Alcino Soutinho também concebeu projetos para museus e faculdades. Foi o caso do Museu do Neo-realismo, em Vila Franca de Xira, da Casa-museu Guerra Junqueiro, no Porto, do Centro Cultural de Alfândega da Fé, do Museu de Aveiro, do Museu/Biblioteca Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante, da faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e das faculdades de Química e de Cerâmica da Universidade de Aveiro.
Com a Pousada de S. Diniz de Vila Nova de Cerveira (1982), Alcino Soutinho obteve o prémio "Europa Nostra", da International Federation of the Protection of Europe's Cultural and Natural Heritage. E o prémio AICA (1984), da Secção Portuguesa dos Críticos de Arte, com o projecto Biblioteca-Museu Amadeo de Souza Cardoso e o Edifício dos Paços do Concelho, em Amarante.
Alcino Soutinho foi condecorado com a Medalha de Mérito das câmaras municipais de Matosinhos (1988) e de Vila Nova de Gaia (1992), com a Comenda da Ordem Militar de Santiago de Espada (1993) e com o título de Cidadão Honorário da Câmara Municipal de Matosinhos (2007). Foi membro da Associação Portuguesa de Designers, do Conselho Científico da Escola Superior de Arte e Design (ESAD), do Comité Científico da Revista Housing (Itália), da Comissão Consultiva para a atribuição de Bolsas de Estudo de Especialização do Serviço de Belas-Artes, da Fundação Calouste Gulbenkian.
Com a sua morte, a chamada "Escola de Arquitetura do Porto" perde um dos seus grandes vultos, já que Alcino Soutinho era reconhecido como fazendo parte da trilogia dos arquitetos mais notáveis desta escola, onde se incluem Álvaro Siza Vieira e Souto Moura.
Fontes consultadas: sigarra.up.pt; bomsucesso.com.pt/architects/alcino-soutinho; infopedia.pt/alcino-soutinho; wikipedia.org/wiki/alcino-soutinho; asoutinho.pt