Vida

Indonésia: Tribos animistas das Flores só festejam Natal com problemas pessoais resolvidos (vídeos)

As tribos de Ngada, na ilha indonésia das Flores, que vivem como na pré-história e que misturam catolicismo com animismo, só podem festejar o Natal depois de resolverem os seus problemas e se reconciliarem consigo mesmos e com os outros.

As culturas animistas da província de Ngada incluíram no seu quotidiano costumes católicos trazidos por missionários, que, por sua vez, foram evangelizados por padres portugueses há cerca de cinco séculos.

[youtube:ouWhVbDMKR4]

«Antes de irem para a celebração do Natal, têm de se reconciliar primeiro consigo mesmos e depois com os outros», para além de «se prepararem física e mentalmente» e de «finalizarem todos os seus problemas», explica o Padre Hubert Muda, natural de Ngada e especialista em mitologia e inculturação.

A confissão «já não é como dantes em que se não o fizerem, vão para o Inferno, mas é antes uma abordagem muito pessoal, porque eles preparam-se para o fazer», esclarece.

[youtube:KuSdNCIyvlA]

O mesmo acontece antes do casamento, dado que os fiéis já com filhos necessitam de ser «abençoados», sendo que aqueles que tiverem dívidas também devem saldá-las antes de iniciarem a cerimónia, podendo depois «ir para a igreja em harmonia», explica, acrescentando que a necessidade de reconciliação precede igualmente a Páscoa.

Nas montanhas da província central das Flores, o Natal é sobretudo uma «celebração em família», mas também em comunidade, existindo o cuidado de, por exemplo, usado um vestido novo.

«Antes de irem para a igreja ou quando regressam a casa, os pais podem oferecer um sacrifício aos seus antecessores e todos rezam juntos«, conta o Padre Hubert Muda, vincando que a prática cultural de oferecer sacrifícios está presente em inúmeras festividades, como casamentos ou funerais.

Há igualmente o costume de oferendar presentes às imagens religiosas na igreja, desde galinhas e outros animais a dinheiro ou flores, existindo ainda o costume de deixar junto às representações de santos velas acesas que mais tarde são recolhidas e colocadas junto às campas de familiares no cemitério, segundo o especialista.

Em vários locais da Indonésia, sobretudo nas cidades, é costume, depois da missa do dia de Natal, visitar os familiares e amigos.

«Visitar é a coisa mais importante, mais do que dar. Tens de estar lá, porque toda a gente vai perguntar onde é que tu estás. A presença vale muito mais», reforça.

Nestes clãs matriarcais das montanhas de Ngada, os costumes natalícios e a devoção a Maria, entre outras práticas católicas, coexistem com usos ancestrais, como pedir proteção às almas dos antepassados e colecionar sinais de sacrifícios animais.

No maior país muçulmano do mundo, as Flores são a única ilha maioritariamente católica e a palavra Natal é usada em português, tal como muitas outras, sinal da passagem dos comerciantes e missionários portugueses pelo arquipélago, que nunca chegou a ser colonizado por Portugal.