Associações de vítimas muçulmanas da guerra civil na Bósnia (1992-1995) enviaram hoje aos responsáveis políticos sérvios bósnios "postais" que exibem cadáveres de uma vala comum recém-descoberta, nas vésperas do aniversário da criação da entidade sérvia.
«Muitos sérvios na Republika Srpska [RS, a entidade sérvia da Bósnia] celebram em 09 de janeiro o aniversário da criação em 1992 da RS. Pretendemos dizer-lhes com esta carta que esta Republika Srpska assenta as suas bases onde se encontram pessoas mortas e no sangue dos nossos filhos», declarou em conferência de imprensa Kada Hotic, da associação das mães de Srebrenica.
O postal, com uma foto de cadáveres exumados em 2013 de uma fossa comum na região de Prijedor (noroeste da Bósnia), foi enviado por diversas associações a cerca de 5.000 representantes políticos sérvios da Bósnia.
Os promotores da iniciativa pretendem que as cartas sejam recebidas na véspera das cerimónias que assinalam o 22º aniversário da proclamação da RS, em 09 de janeiro de 1992, três meses antes da declaração da independência da Bósnia-Herzegovina pelas comunidades muçulmana e croata bósnias e do início do conflito que provocou cerca de 100.000 mortos.
Na fase final da guerra civil, em julho de 1995, cerca de 8.000 muçulmanos em idade de combater foram mortos em Srebrenica (leste) pelas forças sérvias, num massacre definido como genocídio pela justiça internacional mas relativizado pelos dirigentes políticos sérvios bósnios.
Na sequência do acordo de paz de Dayton (Estados Unidos) em novembro de 1995, a Bósnia permanece dividida em duas entidades (RS e Federação croato-muçulmana), unidas por um frágil governo central.