A libertação de exemplares de lince-ibérico até final da primavera em Portugal está «em risco» por falta de condições, alertou hoje uma associação, mas o Governo garante que a reintrodução do felino não está em causa.
Num comunicado enviado à agência Lusa, a ANPC - Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade refere que ainda não estão reunidas as «condições mínimas fundamentais» para que a reintrodução do lince-ibérico em Portugal «possa acontecer e venha a ser um sucesso».
Por isso, a prevista libertação em Portugal de oito linces-ibéricos criados em cativeiro «está seriamente em risco», alerta a ANPC, que representa a maioria das zonas de caça e dos proprietários rurais da região do Vale do Guadiana, no Baixo Alentejo, a zona onde os exemplares serão libertados.
«Há aspetos essenciais que têm de ser salvaguardados para que o lince-ibérico possa ser reintroduzido com êxito», como haver coelho-bravo, a principal presa do lince-ibérico, em número suficiente para o felino se poder alimentar, o que «não está garantido», disse à Lusa o secretário-geral da ANPC, João Carvalho.
Atualmente, a densidade de coelho-bravo é bastante reduzida", devido «a quedas abruptas» das populações provocadas por uma nova doença, o que «põe em risco» a reintrodução do lince-ibérico, que depende «quase exclusivamente» daquela espécie de coelho para se alimentar, disse.
«A densidade de coelho-bravo já é baixa e com a expectativa de novos surtos da doença poderem acontecer este ano corremos o risco de não haver alimento para os linces-ibéricos» que vierem a ser libertados, alertou.
Se não haver coelho-bravo em número suficiente, os linces-ibéricos terão de «percorrer distâncias enormes à procura de alimento, correndo risco de morrerem atropelados», ou «virar-se para outras presas», como perdiz, lebre, galinhas e ovelhas.
Por outro lado, disse João Carvalho, o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e organizações do setor da caça ainda não subscreveram o convénio para a conservação do lince-ibérico proposto pela ANPC e que é «essencial» para se poder formalizar acordos com os proprietários e entidades gestoras das zonas de caça situadas na área abrangida pela reintrodução do felino em Portugal.