À boleia do 1 de abril, a TSF conversou com um professor de psicologia da justiça. Rui Abrunhosa explica que a mentira é algo que vamos aprendendo e aperfeiçoando. Há até mentirosos que são capazes de enganar o polígrafo.
Costuma dizer-se que a mentira tem perna curta, que é mais fácil apanhar um mentiroso que um coxo. Na tentativa de perceber os mecanismos da mentira a TSF pediu ajuda a um professor da Universidade do Minho.
Rui Abrunhosa, professor de psicologia da justiça, explica que há profissionais da mentira, mas também há estratégias para os apanhar. O professor acredita que somos capazes de mentir a qualquer pessoa, mas alguns vestem melhor o papel de mentiroso.
«Há pessoas que têm mais à vontade, mais desfaçatez e há pessoas que com mais facilidade detetam essas mentiras ou não», disse.
Para ser convincente a mentira tem que ser detalhada, o que nem sempre acontece, e a postura gestual também deve ser levada em conta.
«As mentiras funcionam um bocadinho como scrips, como um texto muito taxativo, uma mentira elaborada tem que ter capacidade de detalhe, tem que ser possível o sujeito ir à frente e a atrás, sem se desmanchar na sua história, o que torna a mentira difícil de manter», adianta.
Por isso, na análise forense há estratégias que ajudam a apanhar o mentiroso. «Há técnicas standartizadas que permitem avaliar a capacidade de detalhe, a presença de certo tipo de conformidades ou inconformidades no relato da pessoa, bem como sinais não verbais», explica Rui Abrunhosa.
Uma mentira repetida mil vezes pode mesmo transformar-se em verdade. «Se eu repetir para mim próprio uma determinada coisa que eu queria muito que tivesse acontecido posso me começar a convencer que isso correspondeu a algo que aconteceu na minha vida. Aqui já podemos estar a falar de uma perturbação da personalidade», adianta.
Este professor de psicologia da justiça lembra uma exceção aqueles que são capazes de enganar os polígrafos, como os psicopatas.
«Podem estar a dizer a verdade ou a mentira, mas do ponto de vista da ativação psicofisiológica, os resultados não transparecem no polígrafo, porque eles têm um funcionamento do sistema nervoso autónomo e do cortex cerebral diferente dos indivíduos normais», explica.
Retirando este caso, a verdade é que mentir não é inato. A mentira também se aprende.