Economia

Faria de Oliveira: Portugal tem condições para renegociar a dívida

Faria de Oliveira Global Imagens/Vítor Rios

O presidente da Associação Portuguesa de Bancos considera que o país tem condições de renegociar a dívida. Faria de Oliveira admite ainda que preferia que o Governo optasse por um programa cautelar.

Faria de Oliveira considera que Portugal terá condições de renegociar a dívida, aumentando prazos e baixando juros, mas que para isso terá de apresentar melhorias na economia e de consolidar as finanças públicas.

«Para pagar a dívida nas condições atuais temos de almejar um crescimento económico superior a 3% ao ano, acima do previsto para os próximos dois a três anos. Estou profundamente convicto que, à medida que economia portuguesa for progredindo e que a confiança na disciplina orçamental do país for sendo consolidada, vão seguramente ser criadas condições para ir revendo a nossa dívida, quer em termos de prazo quer em termos de taxa de juro», disse Faria de Oliveira em entrevista à Lusa.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), a acontecer, a negociação deverá ser feita com os credores oficiais, União Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI).

Já uma reestruturação da dívida está «completamente fora de causa» uma vez que, considera, quando Portugal está a passar por «uma das crises mais intensas dos últimos anos e isso seria absolutamente fatal» para o país.

Sobre o tipo de saída de Portugal do programa de ajustamento, que será anunciada nos próximos dias pelo Governo, o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Faria de Oliveira foi claro, assumindo que «preferia um programa cautelar».

Esse programa, justificou, seria uma «espécie de seguro» uma vez que «favorecia a taxa de juro» e protegia da «volatilidade dos mercados». Além disso, adiantou, tinha a vantagem de «exigir maior disciplina e de diminuir manifestamente o risco político», já que poderia ser exigido «o compromisso dos três partidos [PSD, PS e CDS]» no seu cumprimento.

«Mas o programa cautelar não depende só de nós, depende de obtermos o acordo das instituições europeias e dos Estados-membros para que se concretize, temos de encontrar aceitação do outro lado. [Porém,] admito perfeitamente que tenhamos uma saída simples ou quase simples», afirmou Faria de Oliveira.

Quanto ao futuro da economia portuguesa, o responsável sublinhou que deve haver «uma obsessão pelo crescimento económico» e que para isso é preciso captar investimento, seja nacional ou internacional, já que sem ele «não há futuro, não há emprego e diversificação do investimento produtivo».

Outra prioridade deve ser «reforçar a resiliência das empresas», sobretudo das viradas para o mercado externo, para «terem capacidade de realizar novos investimentos».

Em terceiro, disse, é necessário «assegurar as questões de financiamento da economia». Mas para tal é necessário que, a par do contributo do sistema bancário, sejam encontradas outras formas de financiar as empresas, como o mercado de capitais ou sociedades de capital de risco, defendeu Faria de Oliveira.

O presidente da APB frisou ainda a necessidade de Portugal ser capaz de «criar compromissos» entre as principais forças políticas e entre os parceiros sociais.