A Universidade de Vila Real desenvolveu um projeto para produção industrial de caramelos e doces, que pode substituir o «doloroso» processo de corte à mão usado, por exemplo, nos tradicionais rebuçados da Régua.
«O que custa mais ao fazer os rebuçados? É cortá-los. Porque a gente tem de os cortar enquanto estão quentes», afirmou à agência Lusa Maria Leitão, rebuçadeira de 70 anos que faz e vende o tradicional doce no Peso da Régua.
Está praticamente todos os dias pela estação de caminho-de-ferro da cidade e carrega num cesto os rebuçados que faz em casa e que tenta vender aos turistas e visitantes que passam por esta zona do Douro.
«Fazer a calda é fácil. O que custa mesmo é cortá-los, porque temos de pegar na massa a ferver para a cortar. Às vezes fica-se com as mãos todas queimadinhas», salientou a vendedora.
A pensar nesta dificuldade, Amadeu Borges, professor e investigador da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), desenvolveu um processo, já patenteado pela academia, para produção industrial de caramelos e doces.
Segundo explicou o responsável, este equipamento industrial «irá permitir a produção a larga escala, evitando o doloroso processo manual de corte e forma», permitindo a «continuação no mercado de um produto regional com muita procura».
Amadeu Borges frisou que a ideia surgiu «por necessidade do mercado» e que o objetivo é «não deixar morrer os Rebuçados da Régua, manter a tradição, a qualidade e a forma original».
O investigador garantiu que a tradição se vai manter, pois, conforme esclareceu, a mecanização do processo é apenas ao «nível do corte e forma».
«A massa de rebuçado continuará a ser confecionada de forma tradicional. O produto final mantém a forma, tal como é reconhecido no mercado», sustentou.
Apesar de o objetivo da invenção ter como ponto de partida os rebuçados da Régua, este equipamento pode ser aplicado a qualquer tipo de caramelos ou rebuçados, já que é constituído por diversas partes que conferem «transversalidade na sua utilização».
A UTAD é detentora da propriedade industrial, mas a comercialização do equipamento pode ser concedido mediante contrato de licenciamento, com 'royalties' para a universidade.
Amadeu Borges acredita que esta é uma oportunidade para expandir este produto regional.
O responsável referiu que este doce tem «muita procura, não só em Portugal, mas também no Brasil, Macau e em outros países orientais, o que obriga a uma cada vez maior oferta deste produto».
Acrescentou, ainda, que se trata de «um produto gourmet que tem sido aliado à degustação de vinho do porto o que também tem contribuído para a sua expansão no mercado da Europa do Norte».
Maria Leitão disse que ainda chegou a ensinar algumas jovens das escolas locais a fazer o tradicional rebuçado, mas lamenta que agora já ninguém quer aprender a arte.
Ao todo são 12 as rebuçadeiras que se vão espalhando pelos principais pontos turísticos da cidade duriense.
Maria Leitão queixa-se, no entanto, de que o negócio vai mal e pouco consegue vender, neste ano em que o verão «tarda em aparecer».