Um projeto científico da Universidade de Évora permitiu detetar peixes de maiores dimensões em áreas marinhas protegidas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV), quando comparados com recursos piscícolas fora dessas zonas.
Este é um dos efeitos diretos das Aéreas Marinhas Protegidas (AMP) implementadas no PNSACV, em 2011, que foram constatados pelo projeto PROTEC - Estudos Científicos para a Proteção Marinha na Costa Alentejana.
O projeto, financiado pelo Programa Operacional Pescas 2007-2013 (PROMAR), decorreu desde finais de 2010 e terminou hoje, abrangendo duas das quatro AMP do parque, mais precisamente as duas criadas na costa alentejana (Ilha do Pessegueiro e Cabo Sardão).
A investigação, que comparou resultados dentro e fora dessas AMP, mas sempre no âmbito da área do PNSACV, foi liderada pelo Laboratório de Ciências do Mar (CIEMAR) da Universidade de Évora, em parceria com o Centro de Oceanografia da Universidade de Lisboa e a Associação de Armadores da Pesca Artesanal e do Cerco do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Os primeiros resultados do trabalho foram agora divulgados, mas o relatório final só deve ser apresentado "dentro de um ano", disse hoje à agência Lusa o coordenador do PROTECT, João Castro.
«O PNSACV tem a área marinha protegida mais extensa de toda a costa portuguesa, uma faixa com dois quilómetros de largura a partir da linha de costa e que se estende ao longo de 130 quilómetros», realçou.
Por isso, e porque em 2009 estava a ser equacionada a criação de AMP no parque, com interdição da pesca, os investigadores queriam avaliar o antes e o depois da proteção, por exemplo nos recursos pesqueiros (peixes e mariscos).
«Mas a resposta do PROMAR só veio em agosto de 2010 e o trabalho arrancou pouco antes de fevereiro de 2011, quando foram implementadas as AMP do PNSACV", pelo que o estudo se centrou na "avaliação dos efeitos da proteção a partir do seu início», disse o responsável do PROTECT.
As alterações nos recursos naturais "levam tempo", mas o PROTECT já permitiu observar "algumas diferenças, ainda que ténues", que podem "contribuir, futuramente, para uma melhor gestão do PNSACV", disse.
«Há ainda poucos efeitos porque a idade da proteção é reduzida, mas detetámos», por exemplo através da pesca experimental mediante redes de arrasto, «linguados maiores do que os pescados fora das áreas protegidas», disse.
«Na pesca com rede de tresmalho e à cana a partir de embarcação não encontrámos diferenças», mas o cenário mudou na pesca à linha a partir de terra: «Dentro da área protegida, pescaram-se peixes maiores, apesar de não ser significativa a diferença em termos da quantidade».
O estudo implicou igualmente a telemetria em peixes, «feita em Portugal pela primeira vez», com a colocação de emissores acústicos no abdómen de diversas espécies piscícolas e de vários recetores no fundo do mar.
«Só analisámos o caso dos sargos, os quais, no período do seguimento contínuo, não saíram da AMP da ilha do Pessegueiro, o que mostra que essa zona é importante para a espécie», relatou.
Os promotores da investigação pretendem, neste novo período de fundos comunitários, avançar com nova candidatura: «É importante continuar a fazer esta monitorização, de forma contínua, e é essencial alargá-la às duas AMP existentes na costa vicentina».