Ciência e Tecnologia

Astrónomos revelam melhor imagem de sempre de choque de galáxias (vídeo)

H-Atlas H1429-0028 DR/European Southern Observatory (ESO)

Uma equipa de astrónomos liderada pelo português Hugo Messias revelou a melhor imagem de sempre de uma colisão de galáxias, que terá acontecido há mais se sete mil milhões de anos, quando o sol ainda nem existia.

A colisão aconteceu numa zona do universo a que os cientistas chamam H-Atlas H1429-0028, a uma distância em quilómetros calculada utilizando o número dois seguido de 29 zeros, de acordo com os cálculos de Hugo Messias.

Em declarações à agência Lusa, o investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa explicou que, para o estudo, que começou há mais de dois anos, foram utilizados diversos telescópios, nomeadamente o de Atacama, no Chile, e o telescópio espacial Hubble.

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Mas explicou também que foi usada ainda uma galáxia que estava em frente daquelas que estão na base do estudo e que fez o efeito que uma lupa faria, para aumentar algo pequeno na terra.

«Embora os astrónomos se encontrem normalmente limitados pelo poder dos seus telescópios, em alguns casos a nossa capacidade de observar detalhes é aumentada por lentes naturais criadas pelo Universo», diz Hugo Messias, explicando que a massa da galáxia "lupa" é tão grande que atrai a luz e a curva (conforme a teoria da relatividade geral de Einstein).

«É preciso depois reconstruir a imagem, é como reajustar uma lente», conta o cientista, acrescentando: «ao fazer a reconstrução, vimos que havia duas galáxias» e, pela forma de comportamento e pela morfologia, concluíram que estavam em colisão. «De isso temos a certeza», disse.

É certo que, para que a "galáxia-lente" funcione, tem de estar alinhada com a que está por de trás, é certo que todos os dias (segundo Hugo Messias) os astrónomos fazem novas descobertas e que não é possível saber o que resultou da colisão das galáxias, se as duas se tornaram numa só ou não.

Mas Hugo Messias não tem dúvidas, nem os outros participantes no trabalho, de que a colisão galáctica estava a formar «centenas de novas estrelas por ano». «Uma das galáxias em colisão mostra ainda sinais de rotação: uma indicação de que se tratava de uma galáxia de disco antes do encontro», diz um documento do European Southern Observatory (ESO).

A Vila Láctea é uma galáxia de disco

Hugo Messias lembra que tudo aconteceu há muitos milhões de anos e diz que a colisão de galáxias é comum, e que, aliás, a própria galáxia a que pertencemos, a Via Láctea, poderá no futuro chocar com a galáxia de Andrómeda.

Serão necessários ainda milhões de anos futuros. O presente é que um grupo de astrónomos, com um grupo de telescópios e com a ajuda de uma galáxia encontrou o sistema H1429-0028.

«Apesar de muito ténue em imagens no visível, este sistema encontra-se entre as galáxias ampliadas gravitacionalmente mais brilhantes detetadas até hoje no infravermelho longínquo, embora a estejamos a observar numa altura em que o Universo tinha apenas metade da sua idade atual», diz o ESO, que acrescenta: «O estudo deste objeto encontra-se no limite do que é possível».

E o que interessa uma colisão de galáxias ocorrida quando o universo tinha apenas metade da sua idade atual? Hugo Messias explica que é uma forma de testar as capacidades de telescópios como o de Atacama, mas também de obter informação sobre poeiras e sobre como o sistema se está a mover. «No futuro vamos aplicar este estudo a outras galáxias», diz.

Na verdade, diz o astrónomo, ajuda a perceber «como se dá a evolução das galáxias neste tipo de eventos». Mesmo que sejam eventos ocorridos «há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante».