No ano em que Adolph Sax, o inventor do saxofone, morreu, nascia a Banda Musical de Pevidém, em Guimarães. Inspirada nas bandas militares francesas, para as quais o instrumento foi inventado, a banda sempre contou com a família dos saxofones. A TSF falou com Manuel Sapato, neto de um dos fundadores e que entrou para a banda quando tinha apenas 10 anos.
No ano em que Adolph Sax, o inventor do saxofone, morreu, nascia a Banda Musical de Pevidém, em Guimarães. Inspirada nas bandas militares francesas, para as quais o instrumento foi inventado, a banda sempre contou com a família dos saxofones.
Foi fundada há 120 anos por industriais têxteis e durante décadas os músicos eram recrutados entre os operários. Alguns deles ainda lá estão, como é o caso do saxofonista Manuel Sapato, um dos mais antigos músicos da Banda de Pevidém e neto de um dos fundadores.
Entrou para a banda aos 10 anos, incentivado por um tio. «Passou-me para a mão um papelito e eu comecei a aprender», recorda. Primeiro tocou flauta transversal, ainda passou pelo clarinete baixo e só depois veio o saxofone. «Como havia falta de saxofones tenor, o maestro Francisco Ribeiro pôs-me nesse instrumento. E a gente lá ia aprendendo umas notinhas, o solfejo, o valor de cada nota», conta Manuel Sapato.
Quando surgiram em Portugal, as bandas filarmónicas inspiraram-se muito nas bandas militares, em especial nas bandas militares francesas que, no século XIX, deram à família do saxofone grande protagonismo, em comparação com as bandas militares alemãs, as chamadas brass bands, que privilegiavam sobretudo os metais.
A família dos saxofones sempre teve, por isso, um papel de destaque na Banda de Pevidém. «As bandas civis acompanharam muito o modelo francês e havia uma cópia de todo o ritual, não apenas da música mas também do fardamento, do aprumo, da marcha», sublinha César Machado, a escrever um livro sobre os 120 anos da Sociedade Musical de Pevidém.
De saxofone debaixo do braço, Manuel Sapato correu - a troco de uma merenda - todas as festas e romarias, uma boa parte a muitos quilómetros de casa, num tempo em que não havia boas estradas nem dinheiro para pensões. «Os nossos hotéis eram os palheiros. Arranjavam-nos umas eiras e dormíamos em camas de palha», recorda.
Tal como a maioria dos músicos daquela geração, Manuel Sapato era operário. Muitos eram recrutados pelos próprios industriais têxteis, fundadores e maestros, que ofereciam lugar na banda e trabalho na empresa. Outros, mas poucos, seguiram para as bandas militares.
Tudo mudou na geração seguinte, a de Vasco Faria, que hoje dirige a Banda de Pevidém e é professor na Universidade do Minho. A crise no têxtil e o aparecimento das escolas profissionais de música muito contribuíram para a formação de músicos que hoje fazem da música vida profissional, colocados em orquestras e escolas portuguesas e estrangeiras.
120 anos depois, a Banda de Pevidém tem protagonizado mais recentemente grandes concertos e espetáculos, como o de abertura da Capital Europeia da Cultura, com os Fura Dels Baus.