O ex-administrador do BES José Maria Ricciardi relatou hoje no parlamento que viveu dois anos de «inferno total», devido aos seus esforços para tentar alterar a situação que se ia acumulando no Grupo Espírito Santo.
«Eu fui a única pessoa que tentei mudar o curso das coisas», realçou José Maria Ricciardi na sua audição na comissão de inquérito parlamentar ao caso BES, adiantando que houve no último ano duas tentativas de o afastar das suas funções.
«Houve duas tentativas para me pôr na rua. Primeiro, em novembro de 2013 e depois, em junho de 2014», contou aos deputados.
«Nunca pensei que as "holdings" estavam insolventes. Sempre pensei que a dívida ia ser paga», garantiu.
Segundo Ricciardi, além das múltiplas notícias que iam saindo na comunicação social acerca da sua "ambição pelo poder", que justificaria a luta com o primo Ricardo Salgado, o antigo presidente do BES, era olhado com desconfiança dentro da organização.
«Eu era visto como traidor, delator, a pessoa que fez "trade off" com o Banco de Portugal. E que se não fosse a minha ganância pelo poder, o GES ainda persistia», sublinhou.
Ricciardi apontou ainda para os processos que lhe foram movidos pelo Ministério Público e que entretanto caíram sem acusação.
«Houve processos do MP sobre coisas que não fiz e isso já se confirmou, mas andei nos jornais com essas suspeitas», lamentou.
«Tentei o meu melhor», referiu, salientando que o «BdP reconheceu» e manteve a sua idoneidade, o que lhe permitiu continuar à frente do BES Investimento.
De resto, é o único membro da família que pertencia à equipa de gestão do BES liderada por Ricardo Salgado que continua a desempenhar um cargo de relevo à frente de uma instituição financeira.