Perante aumento de doentes com cancro, governo tentou acelerar cirurgias e avançou há seis meses com novas medidas. Liga diz que mudanças não serviram para nada. E acusa os hospitais de adiarem a entrada dos doentes nas listas de espera.
A Liga Portuguesa Contra o Cancro acusa os hospitais de "mascararem" as listas de espera para cirurgia oncológica. A denúncia é feita numa altura em que passa meio ano que o governo lançou novas medidas para responder ao aumento de cancros no Serviço Nacional de Saúde.
À TSF, o secretário-geral da Liga, Vítor Veloso, diz que as mudanças previstas não serviram para nada: «está tudo na mesma pois foram medidas avulsas sem tradução prática, pelo que a lista de espera está igual ou pior do que na altura». Um dos pontos fracos encontra-se nas redes de cuidados continuados e paliativos que «não funcionam». Ou seja, doentes que não deviam mas estão a ocupar camas que seriam para quem vai ser operado. O secretário-geral da Liga Portuguesa Contra o Cancro e presidente do Núcleo Regional do Norte acrescenta que «grande parte» dos doentes oncológicos estão a ser operados depois dos prazos estipulados», apesar de os conselhos de administração usarem «subterfúgios» que diminuem, estatisticamente, os tempos e as listas de espera.
Recordando o percurso de um doente com cancro que segue para cirurgia, Vítor Veloso conta que estes são «inicialmente encaminhados pelos centros de saúde para uma consulta que pode demorar mais de uma semana ou um mês... Depois a pessoa é 'estudada' dentro da instituição o que às vezes demora um mês ou dois... E só depois da consulta de grupo em que se toma a decisão terapêutica é que vai para a lista de espera da cirurgia...».
O responsável da Liga defende que são uma série de etapas, muitas delas «desnecessárias ou pelo menos muito prolongadas no tempo, que fazem com que a espera dos doentes seja muito maior do que aquilo que nos querem fazer pensar».
A TSF contactou a Administração Central do Sistema de Saúde, que centraliza as informações sobre cirurgias. Os dados finais de 2014 ainda não são públicos. No primeiro semestre do ano, sem as medidas aplicadas a partir de setembro, 7 dos 9 tipos de cancro surgiam assinalados a vermelho com mais de 10% de doentes inscritos para serem operados há mais tempo do que prevê a lei dos Tempos Máximos de Resposta Garantidos no Serviço Nacional de Saúde.
O caso mais complicado é o do cancro da próstata (28,4% dos doentes). Seguem-se os cancros da região abdominopélvica (25,1%) ou outros tipos de tumores (24,2%). Os cancros da cabeça e pescoço chegavam aos 20,8%, na pele aos 19,4%, no útero aos 16,9% e no cólon ou recto aos 13,1%.