Política

Carlos Moedas: «Reformas devem continuar. Comentários dos técnicos do FMI são naturais»

Em entrevista à TSF, Carlos Moedas defende que as reformas estruturais devem continuar, e que as críticas dos técnicos do FMI (e da própria comissão europeia) a Portugal, devem ser entendidas como uma pressão normal sobre o poder político.

O Comissário responsável pela pasta da Investigação, Inovação e Ciência, vê como natural a tensão entre o mundo da política e os gabinetes técnicos das instituições internacionais, afirmando que «esses sinais das equipas técnicas são sinais para tentar "picar" o poder político, para que continuem as reformas».

Defendendo que Portugal é reconhecido na Europa como um país que cumpriu as reformas estruturais que lhe foram impostas, e que isso é independente do debate político sobre a qualidade ou a utilidade dessas reformas, Carlos Moedas afirma que, em Portugal, «esse é um trabalho que tem de continuar».

Grécia deve aprender a negociar na Europa

Em relação às negociações, tensas, entre as instituições europeias e o novo governo grego, Carlos Moedas diz que tudo não passa de um compreensível processo de aprendizagem do executivo liderado por Alexis Tsipras. Um processo pelo qual o governo português também passou, há quase quatro anos.

Na opinião do comissário português, os gregos têm de aprender que, nos processos negociais na Europa, «é melhor fazer do que falar, e quanto mais se fala, menos se consegue, e quanto menos falamos e mais trabalhamos, melhor nos portamos»; aquilo que conta na Europa, prossegue Moedas, «é o que fazemos, e não aquilo que falamos, ou as entrevistas que damos, ou o quanto nos queixamos».

Regresso à vida política? «Não, de maneira nenhuma!»

Nesta entrevista à TSF, o antigo secretário de estado adjunto do primeiro-ministro deixa ainda a garantia firme de que a sua carreira política vai acabar no dia em que terminar o mandato como Comissário Europeu. Depois de deixar uma marca na Comissão, «como um português que trabalha em ambientes internacionais», o objetivo será regressar à vida privada. Carlos Moedas assume que «todos devemos ter fases na vida em que damos o nosso melhor para o bem público, mas depois temos de olhar para as nossas famílias».

Plano Juncker

Carlos Moedas está em Portugal para acompanhar o vice-presidente da Comissão Jyrki Katainen no roadshow de apresentação do plano Juncker. Trata-se de um programa de recuperação do investimento na Europa, que conta com o novo Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos, um fundo que conta 21 mil milhões de euros entre dinheiro do orçamento comunitário e do BEI. A Comissão Europeia conta usar esse fundo para cobrir o risco de projetos de investimento na Europa, multiplicando o impacto até aos 315 mil milhões, e criando 1,3 milhões de novos postos de trabalho.

Carlos Moedas rejeita a ideia de que boa parte deste dinheiro vá cair nas economias mais robustas da Europa, e de que esta seja apenas uma gota de água no oceano. O Comissário português explica que o regresso do investimento terá de acontecer através de projetos de qualidade, sem repetir erros do passado.

Carlos Moedas deixa ainda um conselho às empresas portuguesas que queiram candidatar-se a este novo programa de fundos, afirmando que devem preparar as candidaturas com muito cuidado, porque estão em concorrência direta com empresas das grandes economias europeias.