Hospitais privados e colégio da especialidade alertam que novo concurso pode ficar deserto, piorando acesso ao meio de diagnóstico de cancro. Criticam leilão ao preço mais baixo e dizem que valores máximos estão abaixo dos mínimos de qualidade.
A Ordem dos Médicos e a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada dizem que se vai agravar o acesso às colonoscopias prescritas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que os hospitais públicos não têm capacidade para realizar. Acusam o ministério de pretender baixar os preços para valores «ridículos» que não pagam as despesas, afastando os privados e dificultando o acesso a este meio de diagnóstico do cancro do intestino.
O concurso aberto em janeiro e que acaba no início de abril já foi notícia por exigências que a Ordem dos Médicos considerou exageradas e impossíveis de cumprir por não existirem «em lado nenhum». Contudo, as críticas também se estendem aos valores que o governo pretende pagar aos privados.
O presidente do Colégio de Gastroenterologia da Ordem dos Médicos fez contas e concluiu que, neste concurso, o ministério pretende pagar aos privados um máximo de 69,99 euros por um pacote que inclui uma colonoscopia e uma série de outros procedimentos relacionados com este exame. Procedimentos que, todos juntos, num hospital público, custariam ao Estado quase 500 euros. José Cotter fala em valores «vergonhosos» e uma diferença «impensável».
O médico acrescenta que se a colonoscopia for com anestesia o privado receberá perto de 150 euros do Estado, muito menos do que paga o utente se se apresentar sem prescrição do SNS e uma descida de 15% face à última tabela publicada há menos de um ano.
O representante da classe sublinha que por estes valores está em causa a qualidade e que muitas clínicas e hospitais privados não vão participar no concurso, complicando o acesso a um meio fundamental de diagnóstico do cancro. José Cotter recorda que estes exames incluem, para além de uma série de fármacos e materiais, um gastroenterologista, um anestesista e uma enfermeira, pelo que o que está em vigor já é «o mínimo dos mínimos para fazer colonoscopias com qualidade».
A Ordem dos Médicos contesta ainda que o concurso seja feito com base num leilão, com preços máximos muito baixos e em que o único critério de escolha será o valor mais pequeno. José Cotter diz que quem trabalha com qualidade não vai aceitar trabalhar para o SNS.
A TSF contactou na passada quinta-feira o Ministério da Saúde que até ao momento não respondeu a estas críticas.
O presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada também fez contas iguais às dos médicos. Artur Osório diz que os preços «ridículos» e as «exigências absurdas aos privados» são «um convite muito forte à falta de qualidade e para que estes concursos fiquem desertos, levando os portugueses a ficar sem acesso às colonoscopias». Do lado da Associação de Luta contra o Cancro do Intestino, Vítor Neves explica que não conhece este concurso. Mas sublinha que continuam a existir grandes dificuldades em fazer as colonoscopias a tempo, sem meses de espera, através do SNS, sobretudo na região de Lisboa onde apenas cinco clínicas estão convencionadas.
O representante desta associação explica que as queixas, na zona Sul, são quase diárias, e acredita que foram estas dificuldades que levaram o ministério a abrir este novo concurso para alargar o número de privados que fazem colonoscopias para o SNS.
Contactado pela TSF, o gabinete do ministro da Saúde diz que estas são criticas precoces, uma vez que o modelo do concurso ainda não está fechado.
A mesma fonte garante que o objetivo é não prejudicar quem quer que seja, alcançando as condições de acesso- ponderada a oferta e a procura- o mais abrangentes possível.