Programa da Gulbenkian tenta reduzir infeções hospitalares para metade em 12 hospitais. Tinham concorrido 30. Responsável da fundação refere 4.500 mortos em 2013, mas Direção-Geral de Saúde diz que essa conta é impossível de fazer.
Milhares de mortos e perto de 300 milhões de euros de despesa, por ano, para o Serviço Nacional de Saúde. É este o custo estimado, pela Fundação Calouste Gulbenkian, das infeções hospitalares em Portugal.
Um retrato preocupante que levou a Gulbenkian a desenvolver um programa de três anos para diminuir o problema, para metade, em 12 hospitais públicos. Os hospitais foram escolhidos num concurso a que concorreram 30. O projeto tem a parceria do Ministério da Saúde e é apresentado esta tarde com a presença do ministro.
O diretor do Programa Inovar em Saúde da Gulbenkian, responsável pelo Stop à Infeção Hospitalar!, diz que os números que recolheram apontam para uma subida constante das mortes atribuídas às infeções associadas à introdução de dispositivos invasivos nos doentes.
Jorge Soares diz que é verdade que estas pessoas são internadas por outras causas e as infeções surgem como complicações, «mas podemos estimar que o número de óbitos por infeção hospitalar em 2013 foi de cerca de 4.500». Em 2010 tinham sido perto de 3.000, em 2011 3.400 e em 2012 4.000, o que leva este antigo professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa a dizer que o fenómeno se tem agravado e é «um problema sério em Portugal».
O coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infecção e de Resistência Antimicrobiana diz que é impossível avançar números sobre quantas pessoas morrem em Portugal vítimas de infeções hospitalares. José Artur Paiva explica que muitos dos que falecem «com essas infeções» chegam muito frágeis aos hospitais e, por isso, apanham a infeção». Ou seja, explica, não conseguimos dizer se a causa da morte foi a doença de base ou a infeção.
De qualquer forma, José Artur Paiva admite que Portugal está entre os países europeus com mais infeções hospitalares (perto do dobro da média europeia), algo que também ajudou a Gulbenkian a concluir que esta é uma das principais preocupações na saúde pública em Portugal. O programa que agora vai avançar para reduzir estes casos em 12 hospitais públicos envolve 3 milhões de euros, muito menos do que os 300 milhões, por ano, que se estima que o problema custa ao país.
Jorge Soares diz que estamos perante uma «questão cultural pois as pessoas não seguem com muita facilidade normas simples, básicas, como, por exemplo, lavar as mãos», apontando o dedo a médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde, mas também às famílias e amigos que visitam os doentes.
O responsável do programa "Stop à Infeção Hospitalar!" acrescenta que é preciso, também, apostar em «cumprir as normas e as boas práticas», por exemplo ao nível da desinfeção dos equipamentos.
O programa da Gulbenkian para redução das infeções hospitalares conta com a ajuda de um instituto norte-americano. A ideia principal é ter equipas nos 12 hospitais envolvidos que irão identificar as melhores práticas e partilhá-las uns com os outros.
José Artur Paiva, o coordenador do programa nacional de prevenção das infeções, aplaude este programa da Gulbenkian, com quem tem colaborado. Contudo, garante que nos últimos 2 anos houve uma evolução positiva, com menos infeções na maioria das áreas hospitalares.