A TSF encontrou em Coimbra uma enfermeira reformada, agora com quase 80 anos, que dedicou a sua vida profissional à Saúde Pública. Deu as primeiras vacinas, antes mesmo da implementação do Plano Nacional de Vacinação, que este ano comemora 50 anos.
Manuela Montezuma começou pelos rastreios à tuberculose na década de 50 e terminou a carreira a formar enfermeiros na área da Saúde Pública durante 27 anos como professora da Escola Superior de Enfermagem Bissaya Barreto, em Coimbra.
À TSF lembrou tempos em que percorria o centro do país num "Carocha" a administrar a vacina do BCG e a educar as populações urbanas para a saúde, mas também as populações rurais, na grande maioria ainda analfabetas, que viam na vacina algo estranho que levantava dúvidas.
Recuamos a 1958, ainda o Plano Nacional de Vacinação não tinha nascido. «Comecei a trabalhar no BCG em Coimbra e fui integrada nas brigadas móveis de vacinação», conta com carinho e alguma saudade Manuela Alvim Montezuma, que terminou o curso de enfermagem em 1954.
Percorria na década de 50 a zona centro do país, dentro de um "Carocha", com um médico e técnico de raio-x. O objetivo era vacinar nem que fosse apenas mais uma pessoa. Os locais eram escolhidos pela prevalência da tuberculose, normalmente «fábricas, escolas, faculdades, quartéis. Corri Lamego, Moimenta da Beira, São João da Madeira, Arrifana, Góis, Arganil... Quilómetros e quilómetros, às vezes para vacinar apenas uma pessoa».
Faz depois uma pausa na carreira por questões familiares e regressa em 1968 para inaugurar o Centro de Saúde de Celas, tinha o Plano Nacional de Vacinação três anos.
«Naquela altura, a vacinação era só a varíola, o tétano, a difteria e o BCG», lembra Manuela Montezuma, que também garante, pelo menos consigo, nunca ninguém se recusou a ser vacinado. «Alguns pais tinham sim imensas dúvidas».
E de facto, mesmo os que tinham dúvidas acabavam por voltar. «Uma vez, uma senhora chegou para vacinar a filha e não sabia se o devia fazer. Aconselhei-a a esperar um tempo para que se inteirasse do assunto, para que recebesse mais informações acerca da vacina. Voltou passado uns tempos, mas dessa vez com os três filhos, toda chorosa. Disse-me que tinha morrido uma criança com poliomielite e que não queria que os filhos morressem também», conta.
Uma história passada há 47 anos, na altura em que as vacinas vinham em frascos: «temos de ter em atenção que naquela altura o material não era o de agora, onde vem tudo medidinho e é só aplicar e deitar fora. Ia tudo dentro de recipientes e aqueles milímetros tinham de ser todos muito bem medidos», recorda.
Os tempos mudaram, Portugal está bem colocado na proteção vacinal e a enfermeira e professora Manuela Montezuma diz que em muito se deve aos enfermeiros.