O limite devia ser de 1.900 utentes, mas mais de 200 clínicos têm acima de 2.000 utentes nas suas listas. Associação que representa médicos de família diz que assim é impossível atender todos os doentes.
Existem centenas de médicos de família com mais de 1.900 utentes atribuídos, o limite máximo previsto na lei. Quem representa os clínicos sublinha que este número devia ser ultrapassado, apenas, em situações limite.
Números publicados recentemente pelo Ministério da Saúde revelam que estes casos não são, contudo, raros, abrangendo centenas de médicos de família. Acima de duzentos têm mesmo mais de 2.000 utentes, enquanto que quatro clínicos apresentam mais de 3.000 nomes nas suas listas.
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que representa estes clínicos, sublinha que o limite de 1.900 utentes é um número que não deve ser ultrapassado, até porque "foi um limite transitório aceite no ano passado para casos de rutura das unidades de saúde".
Rui Nogueira diz que acima disso não é algo "razoável" e muito menos acima de 2.000: "não há capacidade de resposta e é uma ilusão pois as pessoas têm médico de família mas este, depois, não tem capacidade para responder a todos os pedidos de consulta".
Os números agora divulgados pelo Ministério da Saúde revelam também que, apesar das centenas de médicos que ultrapassam o limite legal de utentes, ainda há regiões com mais de 20% das pessoas sem médico de família atribuído.
Nos últimos 3 meses foram perto de 50 mil a 'receber' um médico de família, mas, apesar da evolução, ainda há 1,233 milhões (12,1%) sem clínico definido no centro de saúde. A legislatura está quase no fim e estamos longe de cumprir a promessa do governo de todos terem um médico de família.
As zonas mais difíceis são o Algarve (26%) e Lisboa e Vale do Tejo (22%). Nas regiões Centro e Alentejo o número desce para 8% e no Norte para 3%.
O presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, que tem um agrupamento de centros de saúde com 38% dos utentes sem médico de família, sublinha o enorme trabalho "incansável" dos clínicos. João Moura Reis diz que só assim é possível ver utentes com e sem médico de família atribuído.