Perante a atual "crise humanitária", o antigo presidente da República considera que há "um limite para o sofrimento" e critica a "pastilha" da austeridade dada à Grécia.
"A Grécia não é a mesma coisa que Portugal, Portugal não é a mesma coisa que a Irlanda e, portanto, a receita habitual que se foi aplicando teve consequências. Nuns sítios dramáticas, noutros menos dramáticas, mas, esta pastilha que se dá sempre, quer seja um cancro quer seja uma constipação, é que não foi o melhor dos mundos", constata Jorge Sampaio.
O antigo presidente da República critica a receita de "austeridade" aplicada no caso grego e conclui: "A avaliação que disso necessariamente se tem de fazer depois de cinco anos, em matéria grega, é que estamos confrontados com uma crise humanitária, com Syriza ou sem ele".
O antigo chefe de Estado não esquece os compromissos assumidos pelo governo grego perante os credores, mas defende que há outros fatores que devem pesar nas decisões europeias: "É evidente que há compromissos, mas há também que ter em conta que as sociedades têm um limite para o seu sofrimento. Isto não pode ser afastado".
"Nós já sabemos que eles não têm sistema fiscal, que eles se reformavam aos 52 anos, que os principais capitalistas e donos de barcos têm tudo registado outros sítios e não pagam quaisquer impostos. Mas, o 'gregozinho' pobre e modesto está destruído. 25 por cento do seu PIB diminuiu com cinco anos de fortíssima austeridade", acrescenta Jorge Sampaio.
No entendimento do ex-presidente da República, as constantes negociações e encontros entre os membros do governo grego e as várias instâncias europeias tem uma questão de fundo: "Ninguém sabe o que são as consequências da saída do euro. Por isso, apesar de tudo, é que estão a fazer alguns esforços".
Durante o debate, Sampaio insistiu ainda que a Europa atravessa uma "crise de confiança" e deixou críticas aos líderes europeus: "A atual crise tem inequivocamente posto a nu o défice democrático europeu. Ou seja, a falta de controlo democrático em determinadas instituições, designadamente a pouca consideração da Comissão Europeia pelas democracias nacionais nos resgates".