A entidade faz reparos ao modo como a informação foi conseguida, mas não nega o teor da mesma. Polémica instala-se a duas semanas dos mundiais de atletismo em Pequim.
As denúncias foram reveladas sábado à noite na estação pública alemã. O documentário sobre o 'doping' no atletismo, transmitido pela ARD e pelo britânico Sunday Times, lança novos ataques contra a Rússia, já denunciada numa reportagem anterior, e aponta irregularidades também ao Quénia.
A reportagem baseia-se numa lista de 12.000 controlos antidoping, de um total de 5.000 atletas, realizados entre 2001 e 2012, arquivados nas bases de dados da Federação Internacional de Atletismo (IAAF).
A investigação jornalística avança que cerca de 800 atletas acusaram valores suspeitos nas análises ao sangue que apontam para o possível consumo de substâncias ilegais para melhorar o rendimento em provas internacionais de atletismo. De acordo com estas análises, não foi feita qualquer investigação à maioria dos casos suspeitos, entre os quais se encontram campeões olímpicos e mundiais.
Os dois órgãos de comunicação, que não revelam a identidade dos atletas, adiantam que mais de 150 medalhas conquistadas, entre as quais 55 de ouro, podem ter sido obtidas de forma fraudulenta.
Mas a investigação jornalística vai além da utilização de drogas. Nas práticas ilegais terão estado envolvidos o tesoureiro da Federação Internacional de Atletismo e o presidente da federação russa da modalidade, que terão colaborado na ocultação de casos de doping a troco de dinheiro.
A Federação Internacional de Atletismo garante que as graves acusações sobre a eficácia do programa antidopagem se sustentam em dados privados obtidos sem consentimento.
Num curto comunicado, divulgado este domingo, a Federação admite ter conhecimento do que tem sido referido, mas salienta que se trata de informações baseadas em dados médicos privados confidenciais obtidos sem autorização dos responsáveis do organismo.
Antes deste comunicado, foi a vez da Agência Mundial Antidoping (AMA) se ter manifestado "muito alarmada" com as denúncias de resultados falsos no atletismo internacional e anunciar a intensificação da investigação sobre o alegado uso generalizado de substâncias proibidas no atletismo mundial.
"A Agência Mundial Antidoping (AMA) está muito preocupada com estas novas alegações levantadas pela ARD, que mais uma vez vai lançar dúvidas sobre a integridade de atletas a nível mundial", disse Craig Reedie, presidente da AMA.
Reedie disse aos jornalistas em Kuala Lumpur, Malásia, que uma investigação independente existente sobre o doping na Rússia seria estendida para averiguar as novas alegações reveladas no documentário da ARD "Doping - Top Secret: O mundo sombrio do Atletismo".
Entretanto, o ministro russo do Desporto já rejeitou as acusações de doping que envolvem atletas daquele país.
O governante diz acreditar que alguém quer arruinar o atletismo através de programas televisivos e não descarta a hipótese de a difusão da reportagem estar relacionada com o aproximar de eleições para escolher o novo presidente da federação internacional da modalidade.
A Federação Queniana de Atletismo qualificou o documentário emitido pela ARD de "calunioso", por lançar "acusações graves não apenas sobre a utilização de doping, mas também a integridade de antigos e atuais dirigentes, sem lhes dar a oportunidade de se defenderem".