10 questões para o Futuro

Portugal tem de começar a descer as dívidas, porque elas são uma ameaça

Adelino Meireles/ Global Imagens

Continuamos a ser um país com demasiado dinheiro emprestado. No último relatório sobre Portugal, o FMI, por exemplo, destacava a dívida como uma ameaça séria ao futuro do país.

Nas duas semanas de campanha eleitoral, a TSF selecionou 10 perguntas para o futuro governo. Desta vez a questão centra-se nas dívidas. Qual o plano dos candidatos para desendividar as famílias e as empresas? As respostas serão dadas, pelos partidos, ao longo do dia.

Apenas o candidato da CDU respondeu às perguntas da TSF.

No último relatório sobre Portugal, em agosto, o FMI, por exemplo, defendia que, apesar da recuperação económica, a dívida pública e privada contínua a ser uma ameaça que vai "constranger" o crescimento económico. Um problema que se pode agravar quando acabarem as condições internacionais favoráveis com juros baratos.

No caso das empresas, o Fundo Monetário Internacional diz que Portugal é um dos países do euro onde o nível de endividamento é excessivo e continua acima do que acontecia antes da crise. E sem reduzir a dívida as empresas não podem crescer e investir. Razões que levam o FMI a pedir ação ao Estado.

Os números do Banco de Portugal revelam que Portugal deve, globalmente, muito dinheiro ao estrangeiro: a dívida externa bruta (a estrangeiros) ronda (dados de junho) os 232% do PIB, perto de 407 mil milhões de euros. Na prática, dívidas que representam mais de duas vezes a riqueza produzida, por ano, no país.

Se olharmos para além daquilo que Portugal deve ao estrangeiro e nos focarmos em todas as dívidas dos setores público e privado a entidades estrangeiras e nacionais (sem incluir os bancos), o valor sobe para 402% do PIB, número que, contudo, tem descido desde 2013.

Ricardo Cabral, professor de economia na Universidade da Madeira, tem estudado o assunto e diz que a dívida é um verdadeiro "elefante na sala" que tem de ser enfrentado sob pena de não resolvermos os outros problemas do país.

O especialista sublinha, no entanto, que mais preocupante que as dívidas globais do Estado, dos portugueses e das empresas são os números da chamada 'dívida externa líquida'. Na prática, aquilo que Portugal deve ao estrangeiro mas não é compensado por dívidas que no estrangeiro também existem para com entidades portuguesas. Dinheiro que vai ter, na prática, mais tarde ou mais cedo, de sair do país, impedindo investimentos que melhorem a produtividade (e a vida) de quem vive em Portugal.

A chamada 'dívida externa líquida' chegou no segundo trimestre deste ano a um valor negativo de 104,7% do PIB (perto de 180 mil milhões de euros), depois de em janeiro a março ter chegado ao recorde nunca visto de -106,5%.

Além de relevante para perceber aquilo que devemos ao estrangeiro, a dívida externa líquida tem ainda sofrido um constante agravamento: em 2011 rondava os -85%; em 2005 os -45%; e em 2000 pouco mais de -20%.