A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP), Teodora Cardoso, alertou hoje que o crescimento económico baseado no consumo privado, com diminuição da poupança e desequilíbrio das contas externas, pode criar as condições para uma nova crise.
"Há o risco de esta política de crescimento de curto prazo voltar a revelar-se insustentável e voltar a criar as condições de uma nova crise, que seria resultado de um crescimento impulsionado pelo consumo privado e pela quebra de poupança, acentuando a contribuição negativa das importações e a deterioração da balança corrente", advertiu Teodora Cardoso, numa conferência de imprensa sobre a atualização do relatório 'Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2015-2019'.
A economista admitiu que "o regresso a uma política de estímulo ao consumo privado pode agravar o défice externo, agravando também o défice orçamental, com o grau de endividamento público e privado", alertando, assim, que a economia portuguesa ficaria "exposta de novo à falta de confiança dos mercados, o que se traduziria numa crise de financiamento".
Para o CFP, a recuperação económica verificada nos últimos dois anos pode "não ser sustentável", porque o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) "voltou a assentar na contribuição da procura interna, com realce para o consumo privado" e porque o contributo da procura externa tornou-se negativo, "com o rápido aumento das importações a superar o crescimento das exportações, não obstante o seu bom comportamento".
O Conselho de Finanças Públicas reviu hoje em alta ligeira a previsão de crescimento para este ano, para os 1,7%, mas espera agora um crescimento inferior da economia portuguesa entre 2016 e 2019.
No relatório 'Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2015-2019', hoje publicado e que atualiza a edição divulgada em março, o CFP prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 1,7% em 2015 (ligeiramente acima dos 1,6% previstos em março).
Para 2016 e para 2017, projeta-se um crescimento de 2,1% em cada um dos anos (abaixo dos 2,3% em 2016 e dos 2,4% em 2017 antecipados anteriormente). Para 2018, o CFP espera um crescimento económico de 1,9% (contra os 2,2% previstos em março) e, para 2019, antecipa um crescimento de 1,8% (abaixo dos 2,2% anteriormente esperados).
O Governo previu em abril de 2014, no Programa de Estabilidade, que o PIB cresça 1,6% este ano, acelerando o ritmo de crescimento para os 2% em 2016 e estabilizando nos 2,4% nos três anos seguintes.
No documento, que assume um cenário de políticas invariantes, ou seja, considera apenas as medidas de política económica e orçamental já adotadas e as medidas legislativas para o horizonte de 2015 a 2019, o CFP refere que "mantém a perspetiva de recuperação moderada da economia portuguesa, embora reveja em baixa o crescimento no médio prazo".
Apesar da revisão em baixa da evolução da atividade económica este ano, para os anos seguintes, o CFP "mantém o perfil de recuperação da economia, mas com taxas de crescimento inferiores às anteriormente publicadas, ampliando-se as diferenças ao longo do horizonte de projeção".
A instituição liderada por Teodora Cardoso acrescenta que "o crescimento projetado resulta totalmente do contributo da procura interna, enquanto a procura externa dará um contributo negativo, embora melhorando ao longo de todo o período".