Economia

Preços de saldos no petróleo não vão chegar às bombas de gasolina

Preço do petróleo é o mais baixo desde 2004. A APETRO garante que a redução vai refletir-se nos combustíveis, mas avisa: a queda não terá a mesma dimensão. Especialista concorda e aponta para uma queda adicional de 10 dólares por barril.

O preço do barril de crude negoceia pouco acima dos 30 dólares por barril, naquele que é o valor mais baixo desde 2004. A tendência de queda deverá continuar, e vai refletir-se no preço dos combustíveis, mas não na mesma medida, avisa a Associação das Empresas Petrolíferas (APETRO).

O secretário-geral assegura que o custo dos combustíveis para os consumidores deverá também cair, mas avisa que o preço final nas bombas tem em conta muitos outros fatores, e por isso alerta que a redução do custo da gasolina e do gasóleo não terá a mesma dimensão da queda do preço do crude. António Comprido explica que "quando se varia 1% no preço do crude, não se pode esperar mais do que 0,25% no preço do combustível. Isto é verdade nas subidas e nas descidas".

O secretário-geral da APETRO recorda que "quando o crude estava nos 120 dólares - cerca de quatro vezes o preço atual - os produtos não estavam quatro vezes mais caros. A variação é amortecida pelo facto de o crude ter um peso relativo na estrutura final do preço de venda aos consumidores".

António Comprido enfatiza que esta relação do preço do petróleo com o dos combustíveis é verdadeira nas subidas e nas descidas, e exemplifica-a com o preço atual do diesel: "estamos a pagar - apesar dos aumentos de impostos de 2015 - o gasóleo significativamente mais barato do que há um ano".

O secretário-geral da APETRO admite no entanto que a baixa de preço do barril de Brent ainda não terminou: "todos os dados apontam para que esta situação de preços baixos não seja revertida a curto prazo, porque há excesso de produção, e um abrandamento da economia mundial, particularmente dos países emergentes, com destaque para a China. Isso criou um desequilíbrio que faz com que as expectativas sejam a de que a situação não se inverta no curto prazo", explica.

Próxima fasquia: 20 dólares por barril

A expectativa de António Comprido é corroborada por Agostinho Pereira de Miranda. O advogado e especialista no tema do petróleo considera mesmo que "é muito provável que passemos a fasquia dos 30 dólares e que o preço venha para a banda dos 20 dólares, particularmente se os efeitos da tensão política entre a Arábia Saudita e o Irão não se fizerem sentir nas próximas semanas". Mas a tendência não pode manter-se indefinidamente: "há um valor marginal a partir do qual não se baixará mais, sob pena de muitas jazidas serem suspensas", alerta.

História de uma queda

Entre 2000 e 2008 o preço do petróleo disparou de 25 para 150 dólares por barril, impulsionado pelo aumento da procura em várias economias, com destaque para a chinesa, e pelo corte de produção decidido pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Depois, na sequência da recessão global provocada pela crise financeira iniciada com a queda do Lehman Brothers, o preço desceu para 40 dólares por barril. Em 2009, o planeta iniciou uma recuperação tímida, que o elevou para 100 dólares. Até 2013 o preço andou sempre acima dessa barreira, até que em 2014 iniciou uma queda livre que parece não ter ainda terminado.

Abrandamento mundial e aumento da oferta

Por um lado, as economias que tinham impulsionado a procura, como a China, o Brasil, a Índia e a Rússia, começaram a abrandar - e com recessão há mais desemprego, mais fábricas a fechar e menos consumo de combustível.

Por outro, começaram a ser mais visíveis os efeitos de algum aumento da oferta. Países como os Estados Unidos e o Canadá incentivaram a extração de crude, alarmadas pelo efeito negativo para as suas economias dos preços altos da matéria-prima, aumentaram os esforços de produção, usando tecnologias mais modernas - mas também mais caras. Conseguiram assim diminuir as importações, mas também a procura internacional.

A Arábia Saudita também contribuiu para a queda do preço, ao decidir manter o nível de produção. Aquele país tem a maior reserva do planeta e produz o petróleo mais barato do mundo, conseguindo por isso manter uma política de preço baixo durante muito tempo sem que isso coloque em causa a sua economia. A Arábia Saudita espera que isso leve a que os métodos de produção do Canadá e dos Estados Unidos, mais caros, deixem de ser lucrativos.