A peça de teatro "Onde o Frio se Demora", que estreia esta quinta feira à noite na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, retrata as questões da violência de género, da solidão e da incapacidade para amar.
A peça parte de três testemunhos de mulheres vítimas de violência, recolhidos pela jornalista Ana Cristina Pereira, que a encenadora Luisa Pinto tratou de levar para o palco, numa interpretação de Margarida Carvalho, com música do guitarrista Peixe e fotografia de Paulo Pimenta.
«São três histórias reais, uma de uma mulher com cerca de 30 anos que se juntou muito jovem ao agressor, pai dos seus dois filhos e que relata tudo o que viveu, a segunda é de uma mulher de 34 anos que fala de desamor. Não tem capacidade para amar e para ser amada, é muito insegura e não se consegue entregar. A terceira história fala de envelhecimento e doença mental. Uma mulher de 74 anos, que tem alzheimer, e que foi amante de um homem casado durante mais de 30 anos. Esperou que a mulher desse homem morresse para se juntar a ele e, chegada a esta idade, já nem sequer sabe se ele morreu ou se ainda está vivo. Também não concretizou a sua vida no que diz respeito aos afetos em toda a sua plenitude», revela Luisa Pinto, encenadora.
"Onde o Frio se Demora" é uma proposta de teatro documental para alertar o lado mais conservador de um país onde todos os anos morrem dezenas de mulheres vítimas de violência. «Quando transpostas para palco, estas histórias adquirem uma amplitude poética que nos toca com muito mais eficácia do que quando são ditas ou escritas, na rádio, no jornal ou na televisão», refere Luisa Pinto.
Os três monólogos são interpretados por uma única atriz, Margarida Carvalho, que se transforma em palco durante a peça, trocando de roupa em frente ao público, enquanto o guitarrista Peixe assegura a passagem com separadores de música tocados ao vivo. A opção explica-se «não só porque é muito mais rico do ponto de vista da criação mas também porque fica metaforicamente ligada a milhares de mulheres do mundo inteiro», adianta a encenadora.
O dispositivo cénico é despojado de grandes elementos, «porque também é fria a vida delas», e remete-nos para uma «casa inacabada, que foi o que aconteceu com a vida destas mulheres», com prateleiras suspensas e luz fria.
Depois da Casa das Artes, em Famalicão, onde estará em cena de 3 a 5 de março, a peça segue para o Rivoli - Teatro Municipal, no Porto, a 18 e 19, para o Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, de 25 a 27, e para o Teatro Municipal de Bragança, a 6 de abril.