Opinião

Uma cumplicidade boa. A decisão... vamos ver

Ouvindo o Presidente Marcelo, percebo que António Costa o manteve informado do processo BPI - e que a sua intervenção o deixou confortável. Melhor assim. Mesmo que a decisão se revele errada.

Tenho as maiores dúvidas sobre o papel que António Costa desempenhou nas alegadas soluções para os bloqueios mais imediatos do sistema financeiro português. E tenho as maiores dúvidas porque ainda não percebi, em concreto, exatamente o que ele fez.

Diz o Expresso que o primeiro-ministro chamou Isabel dos Santos e convenceu-a a sair do BPI. E a entrar no BCP - pelo que disse entretanto o Jornal de Negócios, vendendo a posição do Estado no banco à empresária angolana. Por si só, a pressão para que saísse do BPI baralha-nos um pressuposto: que António Costa estaria preocupado com a 'espanholização' da banca, como o Presidente Marcelo. Porque é o La Caixa que fica a mandar, e porque o BPI se torna num potencial comprador do Novo Banco. Já sobre a entrada no BCP, nova dúvida: o Estado vai fazer uma adjudicação direta ou a venda vai seguir os trâmites regulares?

Mas quando digo que tenho dúvidas, são mesmo dúvidas. Inquietações. Por um lado, faz-me confusão quando vejo um Governo a agir como se fosse acionista do país - que não é. Por outro, já temos sinais acumulados suficientes de que o deixa andar na banca leva a riscos que, na prática, levam a que todos nós acabemos por pagar um preço elevado pelos impasses gerados.

Neste caso, portanto, espero pelos esclarecimentos do primeiro-ministro (breves, suponho). E pelos desenvolvimentos do caso.

P.S. Ouvindo o Presidente Marcelo, percebo que António Costa o manteve informado do processo - e que a sua intervenção o deixou confortável. Ele terá dados que eu não tenho - o que é bom sinal sobre a cooperação que renasce entre São Bento e Belém. É melhor assim: prefiro ter um Presidente que mete a mão no fogo, arriscando-se a queimar, do que um chefe de protocolo eleito por todos, que mais não quer do que a paz na Terra.