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Guterres na ONU: "Ninguém me vê com olhos negativos"

Fábio Poço/Global Imagens

O candidato português a secretário-geral das Nações Unidas considera que é prematuro contabilizar os apoios que dispõe e prefere aguardar pela hora da votação para saber com quem conta.

"Felizmente ninguém me vê com olhos negativos, há um reconhecimento positivo daquilo que esta candidatura representa, mas os apoios concretos só se vão traduzir necessariamente no momento decisivo em que os países votam", afirmou Guterres.

Apoios declarados à candidatura de Guterres na corrida à ONU só os dos Países de Língua Portuguesa, mas o antigo chefe de Estado desvaloriza a questão. "Não faz muito sentido os países declararem apoios condicionais a qualquer candidatura nesta fase, na medida em que é imprevisível a evolução do processo nesta fase", justifica.

Até conseguir chegar à votação na Assembleia Geral das Nações Unidas, António Guterres tem um longo caminho a percorrer, que começa hoje com a audição em Nova Iorque, onde vai tentar convencer os Estados-membros da ONU de que, não sendo mulher (um requisito em vantagem), é um defensor da paridade.

"A vida inteira procurei ser sempre fiel às questões da igualdade de género. As quotas no PS foram introduzidas no meu tempo, tentei fazê-lo na Assembleia da República mas sem êxito na altura, e no ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) alcançamos a paridade ao nível da alta direção. Compete à Assembleia Geral e ao Conselho de Segurança decidirem sobre o que acham melhor para as Nações Unidas", acrescentou.

O candidato português disse que "não há preparações de última hora" numa candidatura à liderança da ONU e que a experiência que acumulou ao longo dos dez anos em que esteve ao lado dos refugiados é o trufo mais forte para bater a concorrência.

"Sou o que sou, valho o que valho. Esse é o meu único argumento", finaliza.

Dez minutos para conquistar a ONU

António Guterres participa esta terça-feira num diálogo informal na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Os candidatos entregaram documentos com as suas propostas, com um máximo de 2 mil palavras, Cada um terá até 10 minutos para defender as suas posições. No final, vão responder a questões dos estados membros e, se houver tempo, de representantes da sociedade civil.

O diálogo com António Guterres acontece terça-feira, às 15:00 locais (20:00 de Lisboa). Durante a manhã, será ouvido Igor Luksic, ex-primeiro-ministro de Montenegro, e a diretora geral da Unesco, a búlgara Irina Bokova.

Esta é a primeira vez que a ONU abre as portas ao processo de seleção do novo secretário-geral. Mas oficialmente, o processo de escolha vai continuar o mesmo: numa reunião à porta fechada, o Conselho de Segurança aprovará um nome, tendo os cinco membros permanentes (Estados Unidos da América, Reino Unido, Rússia, França e China) direito a veto; esse nome será depois submetido para aprovação à Assembleia Geral.