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"Perderam tudo e preferiram voltar à Síria. Sem nada"

Alkis Konstantinidis /Reuters

São voluntários portugueses que estiveram em campos de refugiados. Encontraram menos pessoas do que esperavam e guardam a história de uma família síria que decidiu fazer o caminho de regresso a casa.

Na véspera da visita do Papa Francisco à ilha de Lesbos, na Grécia, os voluntários da organização não-governamental portuguesa Passo Positivo contam que foram surpreendidos por uma calma estranha na chegada aos campos de refugiados de Moria e de Ka Tepe, em Lesbos. É o que conta Isabel Ferreira, presidente desta ONG.

"As notícias que davam eram de que havia alguma rebelião e até descontentamento relativamente a Moria, que era dos maiores. Era um campo aberto e deixou de o ser. Mas, quando lá chegámos, estava tranquilo, não havia tantas manifestações por parte das ONG's e dos voluntários. Os próprios Médicos Sem Fronteiras e o ACNUR saíram do campo de Moria, apesar de terem mantido o posto de observação."

Este grupo partiu da cidade do Porto no dia 28 de março. Três enfermeiros e um engenheiro ambiental estiveram nos campos de acolhimento aos refugiados de Moria e de Ka Tepe. Entre as maiores necessidades, encontraram a falta de alimentos e de artigos básicos de higiene.

Entre as muitas histórias de vida com que estes voluntários se cruzaram, ficou na memória a de uma família síria, com uma bebé que tinha uma infeção respiratória.

"Os pais chegaram até nós com um pedido: queremos voltar para a Síria. A situação aqui está incomportável. Lá não está bem, mas nós queremos regressar para a Síria. Acabámos por medicar a menina, mas mantiveram a opção deles. Preferiam voltar do que estar a enfrentar o caos no campo de refugiados, mesmo depois de terem feito a travessia, de terem perdido tudo, depois de não terem nada por onde voltar, preferiram voltar. E isto marca".

Isabel Ferreira diz que chegam uma média de 150 pessoas por dia à Ilha de Lesbos. Com a entrada em vigor do acordo Turquia - União Europeia, a falta de informação é uma das questões mais preocupantes. "Vinham com alguma informação sobre o pedido de asilo, mas como mudou tudo, tudo se desestruturou".

Os voluntários da Passo Positivo regressaram a Portugal na semana passada e gostavam de ouvir o Papa Francisco deixar uma mensagem de apelo à calma.


"Libertarmo-nos dos estigmas, dos velhos chavões dos terroristas associados a estas pessoas. São pessoas que fugiram da suas terras por algum motivo e esse motivo é valido. É preciso lidar com esta situação com muita tranquilidade".

O Papa Francisco visita a Ilha de Lesbos, na Grécia, este fim de semana.