Sociedade

Presidente da República assinala "tomada da palavra" em tempos de ditadura

Paulo Novais / Lusa

A oito dias do 25 de abril e a comemorar os 40 anos da Constituição, o presidente da República esteve em Coimbra a lembrar o momento em que os estudantes desafiaram Américo Tomás.

Marcelo Rebelo de Sousa esteve, em Coimbra, de visita à Associação Académica e à sala 17 de abril do edifício das matemáticas, onde Alberto Martins, figura ligada ao Partido Socialista, pediu a palavra em 1969 desafiando Américo Tomás, presidente da República na altura.

Uma afronta à ditadura, que levou à detenção pela PIDE do então presidente da AAC e a dias sucessivos de greve às aulas e greve aos exames, que culminam com o encerramento da Universidade por parte do regime.

Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recebido com fado de Coimbra, tunas académicas e beijinhos, aproveitou o momento para lançar desafios à democracia atual, apelando a que os portugueses sejam ativos na participação política.

Com a mágoa de não ter sido nem aluno, nem professor, em Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa veio à sala 17 de abril do edifício das matemáticas homenagear um gesto. "À primeira vista uma interpelação a um ministro e a um governo, mas era mais que isso. Era uma interpelação a um regime, a uma ditadura, a uma situação política que tinha projeção académica".

Marcelo Rebelo de Sousa era estudante de Direito em Lisboa quando Alberto Martins, em 1969, pediu a palavra desafiando na altura Américo Tomás, o presidente da República. "Foi o jovem Alberto Martins a assinalar o começo de uma longa contestação até ao termo de um regime. Agora, somo nós interpelados, porque temos a obrigação de construir, todos os dias, a democracia".

O desafio da democracia de hoje é a proximidade entre quem governa e quem é governado. O presidente da República apela à participação. "Por isso, aquilo que se espera de todos, a começar nos mais jovens, é que sejam ousados, corajosos, exigentes, reivindicativos, e contestatários se for caso disso, permanentemente", apelou.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou os afetos como forma de proximidade e quis deixar bem claro a diferenças entre ditadura e democracia, lembrando que em 1969 "o presidente da República não deu a palavra aos estudantes, mas em 2016 o PR vem agradecer a palavra que foi tomada e exigida pelos estudantes. Essa é a diferença entre a ditadura e a democracia", lembrou.