Justiça

Condenado por violência doméstica o empresário do fax que comprometeu Soares

Reuters/Arquivo

António Strecht Monteiro, envolvido no 'fax' mais comprometedor da vida política de Mário Soares, foi condenado a três anos de prisão, com pena suspensa, por maltratar a sua ex-companheira.

António Strecht Monteiro, figura associada ao caso do "fax de Macau", o caso mais polémico de Mário Soares na Presidência da República, foi condenado no Tribunal de Santa Maria da Feira a três anos de prisão, com pena suspensa, por maltratar a sua ex-companheira, disse hoje fonte judicial.

A sentença foi lida na passada terça-feira e a defesa tem agora 30 dias para apresentar recurso da condenação.

O arguido foi condenado a dois anos e nove meses por um crime de violência doméstica, e um ano e meio, por um crime de detenção de arma proibida.

Em cúmulo jurídico, foi-lhe aplicada uma pena única de três anos de prisão, suspensa na sua execução por igual período.

Além da pena de prisão, António Strecht Monteiro foi condenado na pena acessória de proibição de contactos com a vítima e de uso de porte de arma, pelo mesmo período.

As armas de fogo e as munições apreendidas na casa do arguido foram declaradas perdidas a favor do Estado.

O arguido, de 71 anos, estava acusado de perturbar reiteradamente, no seu sentimento de segurança e liberdade de determinação, a ex-companheira, com quem viveu em união de facto, durante cerca de 15 anos.

Segundo o Ministério Público (MP), Strecht Monteiro "atuou com a intenção de atormentar e maltratar física e psiquicamente a ex-companheira, tanto em privado, como diante de terceiros, de forma sistemática, mediante ofensa da sua saúde mental, emocional e moral, de maneira incompatível com a dignidade da pessoa humana".

O MP diz que a vítima "ficou desequilibrada psicologicamente" e vive, desde 1996, numa aflição e pavor constantes, receando pela sua integridade física e até pela vida e pela vida profissional da sua filha.

Durante uma busca à casa do arguido, em Santa Maria da Feira, a PSP apreendeu quatro armas de fogo, duas pistolas de defesa e duas espingardas de caça, além de centenas de munições.

O caso do fax de Macau

Em Março de 1988, António Strecht Monteiro era o representante da Weidleplan em Portugal. E? contactou o socialista Rui Mateus propondo-lhe um negócio. Mateus era o homem forte da Emaudio, uma empresa construída depois da eleição de Mário Soares como Presidente da República. A empresa alemã queria ficar como consultores do novo aeroporto internacional de Macau e pediram um encontro com o governador Carlos Melancia - que também estava na Emaudio.

A Weidleplan concorre, os alemães transferem 606 mil marcos para a conta de Strecht Monteiro, para que alegadamente ele os entregue à Emaudio, pressionam, mas perdem o concurso - e decidem reaver o dinheiro, através de um fax. Mário Soares sempre o desmentiu, mas num livro publicado anos depois, Rui Mateus escreve: "[Almeida Santos] disse-me que Strecht Monteiro lhe tinha entregado uma cópia em mão e que dela dera imediatamente conta ao Mário."

Em 1993, Melancia foi absolvido da acusação de corrupção ativa, Mateus e os colegas da Emaudio foram condenados.

Nota da direção: por erro nosso, a foto inicial desta notícia era não a de António Strecht Monteiro, mas de Manuel Strecht Monteiro, ex-deputado do PS. Rapidamente o corrigimos, mas aqui deixamos o pedido de desculpas aos leitores e ao antigo deputado.