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"Codfather": Vice-xerife luso-americano envolvido em esquema de contrabando

Julia Love/Reuters

António Freitas utilizava o acesso a áreas restritas do aeroporto de Boston para retirar milhares de euros não declarados do país, conseguidos através da venda de espécies protegidas de peixe.

O luso-americano, e um dos vice-xerifes do condado de Bristol, nos Estados Unidos, que foi detido esta semana por contrabando de dinheiro, era considerado um "funcionário exemplar", e contava com uma medalha de honra no currículo.

"Foi uma surpresa para nós. É um funcionário exemplar, já tinha ganho vários prémios", disse à lusa o porta-voz do xerife, Jonathan Darling.

A trabalhar para o condado de Bristol há 16 anos, Freitas recebeu em 2012 a Medalha de Honra do departamento prisional de Massachusetts, depois de, no ano anterior, ter salvado um colega durante um tumulto na prisão de Dartmouth.

Freitas foi detido esta segunda-feira, e libertado no mesmo dia sob pagamento de uma caução de 10 mil dólares (8.800 euros), na mesma investigação em que o português Carlos Rafael foi detido em fevereiro, pela venda ilegal de espécies protegidas de peixe.

António Freitas é acusado de ajudar Carlos Rafael, que aguarda julgamento em liberdade depois de ser detido e pagar uma caução de um milhão de dólares (879 mil euros), a contrabandear dinheiro e levá-lo para fora dos EUA.

"Assim que soubemos da investigação, há cerca de um mês, colocámo-lo em licença com vencimento. Desde ontem (segunda-feira), quando foi acusado, que o colocámos em licença sem vencimento", disse à Lusa o porta-voz.

Segundo a acusação, o vice-xerife usou o acesso que tinha a áreas restritas do aeroporto de Boston, devido à sua autoridade como oficial do Departamento de Segurança Interna, para passar 17.500 dólares (15.400 euros) no aeroporto sem declarar o valor, dinheiro que depositaria depois numa conta portuguesa pertencente a Rafael.

A acusação de Rafael foi também conhecida esta semana e conta com uma acusação de conspiração para falsificar relatórios prestados ao governo federal, 25 casos de relatórios falsificados e um caso de contrabando de dinheiro.

António Freitas enfrenta uma pena de até cinco anos, com multa de até 250 mil dólares (220 mil euros). Carlos Rafael é acusado de crimes que podem receber pena até 20 anos e arrisca várias multas com limite de 250 mil dólares.

De acordo com a acusação, consultada pela Lusa, o imigrante açoriano mentiu durante anos às autoridades sobre as quantidades e espécies de peixe capturadas pela sua frota para contornar quotas de pesca sustentável. Rafael venderia depois o peixe por "sacos de dinheiro" a um vendedor por atacado de Nova Iorque.

O imigrante da ilha do Corvo é dono de uma das maiores operações de pesca comercial do noroeste americano, Carlos Seafood Inc., sendo apelidado de "Codfather", um trocadilho com o filme Padrinho e a palavra em inglês para bacalhau.

A investigação, que envolveu o fisco dos EUA, os serviços de investigação da Guarda Costeira e a Organização Nacional dos Oceanos e Atmosfera, começou depois de Rafael colocar o negócio a venda em 2015.

Quando dois agentes à paisana se fizeram passar por potenciais compradores, o português confessou a sua operação "fora dos cadernos".

Em janeiro deste ano, Rafael e a contabilista explicaram o passo-a-passo da operação, a que se referiam como "a dança", durante uma reunião com os falsos compradores.

No encontro, Carlos Rafael afirmou que tinha ganhado 668 mil dólares (cerca de 614 mil euros). Os investigadores acreditam que parte do dinheiro foi desviado para Portugal através do aeroporto de Boston.