Cultura

"Portugueses do SoHo". Uma história de emigração na primeira pessoa

Arte Institute/DR

O documentário de Ana Ventura Miranda, que conta com a colaboração do escritor José Luís Peixoto e da cantora e compositora Rita Redshoes, é apresentado esta quinta em Lisboa.

Esta é a história dos portugueses que atravessaram o Oceano à procura de uma vida melhor na América depois da Segunda Guerra Mundial. Uma história que se junta a tantas outras da diáspora portuguesa. Uma história até aqui desconhecida.

"A coragem para construir uma nova vida em Nova Iorque tem a distância das suas avenidas, tem a altura dos seus edifícios", diz José Luís Peixoto, no início do teaser de "Portugueses no SoHo".

O escritor é o autor e narrador dos textos do documentário de Ana Ventura Miranda, que tem estreia portuguesa esta quinta-feira no Centro Cultural de Belém em Lisboa.

Do início. Em 2006 Ana Miranda mudou-se para Nova Iorque. Na nova vida na "Big Apple", instalou-se num prédio na Broome Street. A dona era uma portuguesa. E foi assim que se cruzou com a história desconhecida da comunidade portuguesa de Manhattan.

"A ideia inicial era fazer algo sobre este prédio, porque eu morava nele e era muito interessante haver vários portugueses", explica Ana Ventura Miranda à agência Lusa. "Muitas vezes via alguns senhores com os típicos bonés portugueses sentados no parque e pensava: 'Parecem mesmo portugueses.' Até que percebi que eram mesmo".

Entre as décadas de 1960 e 1980, cerca de 700 famílias portuguesas viviam em Manhattan. A comunidade chegou a ter uma escola, igreja, mercados, equipa de futebol e clubes recreativos.

Quando as fábricas começaram a fechar a zona tornou-se uma das mais cobiçadas da cidade. Os portugueses não sobreviveram ao aumento das rendas e começaram a mudar-se para Long Island e Nova Jérsia.

Atualmente, resistem cerca de 20 imigrantes, dois pequenos mercados, que vendem produtos portugueses e a imagem de Nossa Senhora de Fátima e dos Três Pastorinhos, na fachada de uma das igrejas.

O trabalho de Ana Miranda, fundadora e diretora do Arte Institute (um instituto independente que promove a arte contemporânea portuguesa), foi traçar esse percurso.

"Ver este trabalho vasto, que tem como principal objetivo recuperar a herança portuguesa no Soho, homenagear estas pessoas extraordinárias e não deixar esta história inédita desaparecer, sem ficar registada, é uma emoção e orgulho muito grande", conta.

O documentário teve estreia mundial em Nova Iorque, no Museum Of Modern Art (MoMA) e no Anthology Film Archives, em abril. Na passada sexta-feira foi apresentado na Europa nos cinemas Babylon, em Berlim, na Alemanha. Hoje chega a Portugal, com uma sessão no CCB, em Lisboa, às 21:00.

- Agora estamos aqui. Daqui a um bocadinho não sei onde estou.
- Podemos estar em Portugal.
- Não. Em Portugal só daqui a 6 horas.