Opinião

Crónica de um debate vazio

As férias não fizeram bem a ninguém. Nem ao Governo, nem à oposição. O primeiro debate quinzenal acontece no último dia de verão. Talvez seja isso. Talvez ainda esteja toda a gente a pensar na praia.

António Costa prometeu apresentar aos deputados e ao país, as Grandes Opções do Plano. E apresentou. Mais igualdade, reposição de rendimentos, políticas de coesão social, criar condições para fazer crescer o investimento, aposta nas qualificações, qualidade dos territórios, etc, etc. É como o discurso da Miss Mundo. Acabar com a fome, acabar com a guerra e paz para o mundo. Alguém discorda? Dificilmente. Pior é explicar o caminho para lá chegar. E isso, nem a Miss Mundo nem António Costa conseguiram fazer.

Irónico, o Primeiro-ministro pede à oposição que controle a ansiedade e espere pelo Orçamento do Estado, que será entregue no Parlamento (palavra de António Costa) a 14 de outubro. É justo. Mas é igualmente justo pegar nestas prioridades do Governo e compará-las com as anteriores. E quando fazemos esse exercício, rapidamente chegamos à conclusão que são tiradas a papel químico. O que significa, por um lado coerência. Por outro, que nem tudo está feito e ainda há muito caminho a percorrer. Mas significa também que parte destas opções não estão a produzir o efeito que o Governo desejava e prometia.

A economia continua com um crescimento anémico. O investimento público é baixo. E as exportações estão muito aquém do desejado. Salva-se o desemprego que vai caindo aos poucos e a perspetiva otimista de que o défice deste ano pode mesmo ser alcançado. Tudo depende de como correr esta última metade do ano.

As grandes opções da oposição também se mantém as mesmas. O PSD insiste na estratégia de esperar pelo desastre. O CDS segue esquizofrénico a falar de tudo, sem noção do ridículo quando vem defender a classe média que ajudou a destruir, nos últimos quatro anos. E é este o ponto de partida para a discussão do Orçamento do Estado para 2017.

Um Orçamento do Estado é sempre importante. Mas o do próximo ano, assume uma importância ainda maior. Porque ele pode ser muito mais definidor sobre a validade da estratégia do Governo de António Costa. 2016 foi um ano atípico por todos os motivos. Porque o Orçamento para este ano chegou tarde. Porque António Costa teve que incorporar o acordo com as esquerdas para se manter no poder. E porque o país deu o benefício da dúvida. 2017 terá uma margem de manobra mais estreita.