Uma vez por semana é possível ir espreitar os achados arqueológicos que se encontram nos 900 contentores retirados da obra do Campo das Cebolas, em Lisboa. Entre eles, um cais pombalino e dois barcos.
Cláudia Manso é a diretora-geral da escavação do Campo das Cebolas, que junta uma equipa de arqueologia de 60 pessoas, entre arqueólogos e mão-de-obra de apoio.
Desde setembro, quando começaram as escavações, já foram retirados 900 contentores de achados, a maior parte material de construção (telhas, tijolos e tijoleira), cerâmica comum, vidrada e esmaltada, e também porcelana oriental e italiana.
A escavação desvendou, ainda, material do século XVI, como pentes de madeira, bijuteria, sapatos, contas, e até alfinetes e moedas de ouro, encontrados através de um processo de crivagem com jato de água, que limpa as peças. Mas, o que mais prende a vista dos visitantes é a estrutura do antigo cais, construído após o terramoto de 1755, com três escadarias, e uma embarcação de 17 metros de comprimento e três de largura.
Datado do início do século XIX, o barco regional de transporte mercadorias alimentares e cortiça no rio Tejo, foi encontrada praticamente completa e "acostada a uma estrutura portuária de madeira", disse a responsável à Lusa durante a visita.
Cláudia Manso referiu, ainda, que foi o lodo do aterro que permitiu a conservação do barco que os arqueólogos acreditam ter sido abandonado no local, e que era usado para encaminhar as águas do saneamento, que o atravessavam em direção ao rio.
Esta é já o segundo barco encontrado no local (o primeiro, em pior estado, foi entretanto retirado), que servia para consolidação do aterro, o que provocou alguma surpresa, uma vez que "é incomum encontrá-los em contexto de escavação arqueológica", salientou.
A escavação revelou, também, "estruturas relacionadas com o edifício da alfândega velha, construído no final do século XIX", e que "existiu aqui até meados do século XX, quando foi demolido", continuou a diretora.
Para aquele local está prevista a criação de uma praça, um parque de estacionamento e equipamentos lúdicos. A EMEL aponta a conclusão da obra para o "primeiro semestre de 2017". Dado o tamanho do espólio encontrado, a EMEL revê "constantemente a possibilidade de integrar essas realidades naquilo que vai ser o futuro Campo das Cebolas".
Um desses exemplos foram as pedras que serão integradas no pavimento da praça, "substituindo umas outras lajetas que estavam previstas para esta área, possibilitando dar uma continuidade a estes achados arqueológicos e mantê-los no local", sublinhou Rita Gonçalves.
As visitas às obras do Campo das Cebolas decorrem à sexta-feira de manhã, em grupos de não mais de 15 pessoas.