Política

A "paulada" que virou as presidenciais de 86

Mário Soares,candidato à Presidência da República em 1986, visita a Marinha Grande onde é agredido. © Arquivo Global Imagens

Em 1986, Mário Soares deu a volta às sondagens e, mesmo com a esquerda dividida, conseguiu obrigar Freitas do Amaral a uma segunda volta que viria a consagrá-lo como o primeiro PR civil.

Faltavam apenas onze dias para a primeira volta das presidenciais de 1986.

O PS estava divido entre Salgado Zenha, apoiado por Eanes, Maria de Lurdes Pintassilgo e... Mário Soares.

Soares surgia desgastado pela governação recente, num país que tinha passado pela intervenção do FMI e registava 30 por cento de inflação, desemprego em alta, crise instalada.

A Marinha Grande, onde logo à entrada numa placa se podia ler "Moscovo", era palco de contestação crescente entre os trabalhadores da indústria vidraceira.

Vindo da Nazaré, Mário Soares foi avisado para não entrar, insistiu e acabou rodeado pela população e agredido.

De frente para a câmara, o candidato falou para o país, criticando os "partidários de Salgado Zenha, Álvaro Cunhal e Ramalho Eanes".

"Fui agredido mas isso não me impediu de circular em Portugal porque Portugal é uma terra de liberdade, não é Moscovo".

Foi um momento considerado decisivo para os 25,4% que Soares obteve na primeira volta dessas presidenciais para onde tinha partido com 8% nas sondagens.

Depois, na segunda volta, acabaria por vencer Freitas do Amaral com uma margem a que o DN chamou "um Estádio da Luz de diferença", cerca de 150 mil votos.