Economia

Fitch: Recapitalização da Caixa pode atirar défice para perto dos 3% em 2017

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O alerta é feito pela Fitch num relatório a que a agência Reuters teve acesso. Nesta análise, a Fitch salienta também alguns problemas que o Governo tem para resolver no setor da banca.

Portugal tem de fazer mais para resolver os problemas no setor bancário, podendo a recapitalização da estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD) atirar o défice de 2017 novamente para perto de três por cento, disse a Fitch, que vê a possibilidade do deadline para a venda do Novo Banco ser estendida.

"O valor do défice de 2017 pode ser afetado pela próxima recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (maior banco do país), que inclui 2.700 ME de apoio público direto", avisou agência de notação financeira, num relatório.

"O tratamento da operação será decidido em última análise pelo Eurostat, mas pode colocar o défice em cerca de três por cento", disse a Fitch que estima que Portugal terá tido um défice de 2,3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.

Ontem, o ministro das Finanças reviu em baixa a previsão do défice português em 2016 para um valor não superior a 2,1 por cento do PIB, o mais baixo em 42 anos, face à anterior estimativa de igual ou inferior a 2,3 por cento, que já estava duas décimas abaixo do exigido por Bruxelas.

O Governo quer cortar o défice de 2017 para 1,6 por cento do PIB.

A Fitch afirmou que, desde que tomou posse em novembro de 2015, o primeiro-ministro António Costa tem procurado endereçar "a multitude de questões que afligem o setor bancário, mas os resultados têm sido mistos até agora".

Quanto à CGD, o Governo quer concluir o processo de recapitalização até ao fim do primeiro trimestre de 2017, "o que deverá deixar o banco estatal numa posição mais forte para melhorar a rentabilidade".

Muito por fazer

A agência de notação financeira Fitch realça que o atual Governo "está a renovar os esforços para resolver os problemas herdados do setor bancário".

"No entanto, ainda tem de haver muito progresso em áreas chave como a venda do Novo Banco ou a implementação de uma solução sistémica para carteiras de malparado", referiu.

A Fitch adiantou que, "apesar do crescimento relativamente fraco da receita, o Governo conseguiu cumprir o objetivo do défice através da implementação de uma estratégia de consolidação rigorosa, com a despesa total estimada em cerca de 46 por cento do PIB, o nível mais baixo desde 2008".

Lembrou que "o orçamento de 2017 tem uma estratégia de consolidação semelhante, mas com menos alterações ao quadro fiscal e pressupostos macroeconómicos mais realistas".

Mas, alertou que "existem algumas questões relacionadas com a estratégia de consolidação, já que no ano passado o Governo recorreu a medidas one off de receitas e cortes substanciais ao já fraco investimento público para descer o défice".

"Exigências públicas de mais investimento deverão aumentar a pressão sobre a despesa mas, assumindo que os custos de financiamento permanecem estáveis e o crescimento nominal modesto, o défice estrutural deve continuar a cair", disse.

A Fitch manteve o rating de Portugal em território de 'lixo' 'BB +' com perspetiva estável.