Sociedade

À flor da pele

MUDE

O que nos contam as histórias gravadas no corpo de homens e mulheres do início do século XX?

Durante os próximos 3 meses, a exposição "O mais profundo é a pele" mostra tatuagens recolhidas no período entre 1910 e 1940. Até essa data no Instituto de Medicina Legal guardavam-se em frascos com formol fragmentos de pele humana tatuada. São alguns desses fragmentos que estão agora expostos no Palácio Pombal em Lisboa.

"Esta coleção permite dar um retrato da Lisboa da primeira metade do século, saber quem se tatuava, porquê, onde, perceber os bairros e perceber a dinâmica social", revela Bárbara Coutinho, a diretora do MUDE - Museu do Design e da Moda que aceitou o desafio de expor parte do espólio do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forense.

Carlos Branco, um dos curadores da exposição trabalhou no restauro dos 60 fragmentos expostos, alguns com mais de cem anos e conta que à época existiam vários tipos de tatuagens, "as inscritivas com nomes e datas, as tatuagens amorosas, eróticas, animais, flores e depois aquelas mais simbólicas como o saimão ou os cinco pontos, o homem entre quatro paredes".

"Aquilo que se acreditava é que quem se tatuava tinha uma predisposição para o crime", afirma Carlos Branco. Essa teoria foi defendida pelo italiano Cesare Lombroso (1835-1909), considerado o pai da criminologia moderna e na exposição é possível encontrar um livro do autor no qual ele mostra tatuagens típicas dos delinquentes, das prostitutas ou dos mafiosos.

A diretora do MUDE defende que "O mais profundo é a pele" é uma exposição que permite vários olhares. "É como um caleidoscópio, permite um olhar filosófico, um olhar sociológico, antropológico e até político".

Catarina Pombo Nabais, coordenadora do SAP LAB (laboratório de ciência, arte e filosofia) do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL) é outra das curadoras da exposição e defende que esta mostra levanta várias questões filosóficas. "A filosofia traz a esta exposição uma derme , uma epiderme mais espessa no sentido de tentar compreender a tatuagem no sentido artístico, estético, mas também esta relação entre a tatuagem e a criminalidade", afirma.

Catarina refere a obra "Vigiar e punir" de Michel Foucault, o filosofo que atravessa a exposição.

Além dos frascos de formol com pele tatuada há documentação que Helena Teixeira do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forense, acredita, dá ainda mais riqueza a esta mostra.

Redação